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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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E então, sendo eu homem, amo num homem o que me horroriza ser? Grande<br />

abismo é o homem, Senhor! Tendes contados os seus cabelos, e nenhum se perde para<br />

Vós 147. Contudo, os seus cabelos são mais fáceis de contar que os afetos e movimentos<br />

do coração!<br />

23. Mas aquele retórico pertencia à classe dos que eu amava tal qual como eu<br />

mesmo queria ser amado. Eu andava errante com o orgulho e era levado em redemoinho<br />

de qualquer tufão. Mas, apesar disso, muito às ocultas, era ainda governado por Vós!<br />

Como sei e posso confessar, com verdade, diante de Vós, que o amava mais pela<br />

estima dos que o louvavam que pelos méritos por que era louvado? Se, em vez de o<br />

louvarem, o vituperassem, apregoando essas mesmas qualidades como censura e<br />

desprezo, de modo algum me entusiasmaria por ele. Contudo, os méritos eram os<br />

mesmos; a pessoa a mesma; somente seria outra a estima dos narradores ! Eis onde jaz<br />

enferma a alma que ainda não aderiu à solidez da Verdade! Avança e volta, retrocede e<br />

torna a retroceder, como os sopros das línguas que ventam dos pulmões dos<br />

sentenciosos! Para a alma a luz cobre-se de nuvens e a verdade não se distingue, estando<br />

diante de nós.<br />

Tinha muito a peito que minhas palavras e estudos fossem conhecidos desse<br />

homem. Se os aprovasse, havia de me entusiasmar ainda mais por ele; se os condenasse, o<br />

meu coração, fútil e vazio da vossa firmeza, sentir-se-ia ferido. Com grande prazer,<br />

meditava no "Belo e Conveniente" — assunto da obra que tinha dedicado a Hiério,<br />

admirando-a na minha imaginação, sem haver mais ninguém que a louvasse!<br />

15<br />

O problema do belo e do mal<br />

24. Mas, ó Todo-Poderoso, "que só criais maravilhas 148", ainda não via na vossa<br />

arte o fulcro de tão grandes obras. O meu espírito errava pelas formas corpóreas.<br />

Definia o belo "o que agrada por si mesmo"; e o conveniente "o que agrada pela<br />

sua acomodação a alguma coisa". Distinguia-os e comprovava-os com exemplos hauridos<br />

dos corpos. Voltei-me, depois, para a natureza da alma, mas as falsas opiniões que tinha<br />

dos seres espirituais não me deixavam vislumbrar a verdade 149. A própria força desta<br />

147 Mt 10,30.<br />

148 Sl 71, 18.<br />

149 Note-se que nesta altura da narrativa <strong>Agostinho</strong> ainda vivia sob a influência da filosofia maniqueísta. (N. do T.)

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