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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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por exemplo, um corpo qualquer visível — nos desaparece dos olhos e não da memória,<br />

conservamos a sua imagem lá dentro, e procuramo-lo, até se nos oferecer à vista. Quando<br />

for encontrado, reconhecemo-lo pela imagem que ficara dentro.<br />

Não dizemos ter achado uma coisa que se perdera, se a não conhecemos, nem a<br />

podemos conhecer, se dela nos não lembramos. Esse objeto desaparecera para os olhos<br />

que a memória conservara 463.<br />

19<br />

O que é a reminiscência?<br />

28. Quando a própria memória perde qualquer lembrança, como sucede quando<br />

nos esquecemos e procuramos lembrar-nos, onde é que, afinal, a procuramos, senão na<br />

mesma memória? E se esta casualmente nos apresenta uma coisa por outra, repelimo-la<br />

até nos ocorrer o que buscamos. Apenas nos ocorre, exclamamos: "É isto !" Ora, não<br />

soltaríamos tal exclamação, se não conhecêssemos esse objeto, nem o reconheceríamos,<br />

se dele nos não lembrássemos. É certo, portanto, que o tínhamos esquecido. Poder-se-ia<br />

também dizer que esse objeto não fugira totalmente, mas que nós, por meio da parte que<br />

nos ficou impressa, procurávamos a outra? Com efeito, a memória sentia que já não podia<br />

resolver em conjunto o que conjuntamente costumava, e truncada no seu hábito e a<br />

coxear, exigia a entrega da parte que lhe faltava.<br />

O mesmo sucede quando uma pessoa conhecida se nos depara à vista ou ao<br />

pensamento e, esquecidos do seu nome, o procuramos. Ao ocorrer-nos outro nome, não<br />

o ligamos (a tal pessoa), porque nunca nos acostumamos a associá-los no nosso<br />

pensamento. Por isso afastamos esse nome até se nos apresentar aquele que simultânea e<br />

perfeitamente concorde com o conhecimento habitual.<br />

Donde nos vem esse nome senão da própria memória? Supondo que o<br />

conhecemos por advertência doutrem, ainda é dela que nos vem, porque não o<br />

reconhecemos como um novo conhecimento, senão que, recordando-o, aprovamos ser<br />

esse o nome que nos disseram. Se se apagou completamente do espírito, não nos<br />

lembramos dele, ainda que nos avisem. Mas aquilo de que nos lembramos ter esquecido,<br />

ainda o não esquecemos inteiramente. Por isso, não podemos procurar um objeto<br />

perdido, se dele nos esquecemos totalmente.<br />

463 A memória sensitiva conserva a imagem do objeto perdido, e a memória intelectual guarda a sua idéia (N. do T.)

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