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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero.<br />

Umas apresentam-se imediatamente, outras fazem-me esperar por mais tempo, até serem<br />

extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem<br />

aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio, como que<br />

a dizerem: "Não seremos nós?" Eu, então, com a mão do espírito, afasto-as do rosto da<br />

memória, até que se desanuvie o que quero e do seu esconderijo a imagem apareça à vista.<br />

Outras imagens ocorrem-me com facilidade e em série ordenada, à medida que as chamo.<br />

Então as precedentes cedem o lugar às seguintes, e, ao cedê-lo. escondem-se, para de<br />

novo avançarem quando eu quiser. É o que acontece, quando digo alguma coisa decorada.<br />

13. Lá se conservam distintas e classificadas todas as sensações que entram<br />

isoladamente pela sua porta. Por exemplo, a luz, as cores e as formas dos corpos<br />

penetram pelos olhos; todas as espécies de sons, pelos ouvidos; todos os cheiros, pelo<br />

nariz; todos os sabores, pela boca. Enfim, pelo tato entra tudo o que é duro, mole,<br />

quente, frio, brando ou áspero, pesado ou leve, tanto extrínseco como intrínseco ao<br />

corpo.<br />

O grande receptáculo da memória — sinuosidades secretas e inefáveis, onde tudo<br />

entra pelas portas respectivas e se aloja sem confusão — recebe todas estas impressões,<br />

para as recordar e revistar quando for necessário. Todavia, não são os próprios objetos<br />

que entram, mas as suas imagens: imagens das coisas sensíveis, sempre prestes a oferecer-<br />

se ao pensamento que as recorda.<br />

Quem poderá explicar o modo como elas se formaram, apesar de se conhecer por<br />

que sentidos foram recolhidas e escondidas no interior? Pois mesmo quando me encontro<br />

em trevas e silêncio posso representar na memória, se quiser, as cores, e distinguir o<br />

branco do preto e todas as mais entre si. Os sons não invadem nem perturbam as imagens<br />

que aí se encontrarem. Estão como que escondidos, e retirados. Se me apetece chamá-los,<br />

imediatamente se apresentam. Então, estando a língua em repouso e a garganta em<br />

silêncio, canto o que me apraz. Aquelas imagens das cores, que não obstante lá<br />

continuam, não se interpõem nem me interrompem quando manejo estoutro tesouro que<br />

entrou pelos ouvidos.<br />

Do mesmo modo, conforme me agrada, recordo as restantes percepções que<br />

foram reunidas e acumuladas pelos outros sentidos. Assim, sem cheirar nada, distingo o

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