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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Se o coração do marido era afetuoso, o temperamento era arrebatado. Mas ela<br />

sabia que era melhor não resistir à ira do esposo, nem por ações nem por palavras. Logo<br />

que o via mais calmo e sossegado, oportunamente lhe dava a explicação da sua conduta,<br />

se por acaso ele irrefletidamente se irritava. Enfim, muitas senhoras, tendo maridos muito<br />

mais benignos, traziam no rosto desfigurado os vestígios das pancadas. Conversando<br />

entre amigas, enxovalhavam a vida dos esposos. Minha mãe repreendia-lhes a língua,<br />

admoestando-as seriamente como por gracejo. Lembrava-lhes que, desde o momento em<br />

que ouviram o contrato de matrimônio, como quem escuta a leitura dum documento pelo<br />

qual são feitas escravas, elas se deviam considerar como tais. Por este motivo, tendo<br />

presente essa condição, não podiam ser altivas com os seus senhores.<br />

Estas matronas, conhecendo o mau gênio que ela suportava ao marido,<br />

admiravam-se de nada lhe ouvirem, nem por indício algum contar que Patrício lhe batesse<br />

ou que algum dia se desaviessem por questiúnculas domésticas. Perguntavam-lhe<br />

familiarmente a razão, e a minha mãe expunha-lhes seu modo de proceder, de que acima<br />

fiz menção. As que o punham em prática, depois de o experimentarem, felicitavam-na. As<br />

outras, que não faziam caso, continuavam a ser vexadas e oprimidas.<br />

20. A princípio a sogra irritava-se contra ela, por causa duns mexericos de escravas<br />

malévolas. De tal forma minha mãe a conquistou com afabilidades, com paciência e<br />

mansidão inalteráveis, que a própria sogra espontaneamente denunciou ao filho as línguas<br />

intrigantes das escravas como perturbadoras da paz doméstica entre a nora e ela, e lhe<br />

rogou que fossem castigadas. Com efeito, depois, Patrício, dócil à mãe e solícito pelo bom<br />

governo da casa e pela concórdia entre os seus, mandou flagelar as culpadas, segundo o<br />

desejo de quem as acusara. A sogra declarou que podia esperar igual castigo quem quer<br />

que para lhe agradar lhe dissesse mal da nora. Ninguém ousou mais expor-se a tal risco, e<br />

viveram as duas em doce harmonia, digna de ser lembrada.<br />

21. Concedestes ainda um grande dom a esta fiel serva em cujo seio me criastes, "ó<br />

meu Deus e minha misericórdia 408". Quando podia, mostrava-se conciliadora entre as<br />

almas discordes e desavindas, a ponto de nada referir de uma à outra senão o que podia<br />

levá-las a reconciliar-se, ouvindo dum lado e doutro as queixas amargas, as quais costuma<br />

vomitar a discórdia encolerizada e cheia de ressentimentos, quando em presença duma<br />

amiga, o vômito de rancores contra a inimiga ausente desabafa em azedas confidencias.<br />

408 Sl 68, 18.

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