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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Ainda que falsas, não é falso lembrar-me delas. Recordo-me também ter sabido, nessas<br />

disputas, discernir as verdades das falsidades.<br />

Agora vejo que as distingo dum modo inteiramente diferente daqueles com que as<br />

distingui tantas vezes, quando com freqüência as considerava. Recordo-me, portanto, de<br />

muitas vezes ter compreendido isto. E o que agora entendo e distingo, conservo-o na<br />

memória para depois me lembrar de que agora o entendi. Por isso lembro-me de que me<br />

lembrei. E assim, se mais tarde me lembrar de que agora pude recordar estas coisas, será<br />

pela força da memória!<br />

14<br />

A lembrança dos afetos da alma<br />

21. Encerro também na memória os afetos da minha alma, não da maneira como<br />

os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o<br />

exige a força da memória.<br />

De fato, não estando agora alegre, recordo-me de ter estado contente. Sem tristeza,<br />

recordo a amargura passada. Repasso sem temor o medo que outrora senti, e, sem<br />

ambição, recordo a antiga cobiça. Algumas vezes, pelo contrário, evoco com alegria as<br />

tristezas passadas; e com amargura relembro as alegrias.<br />

Não é de admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é<br />

outra. Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar.<br />

Porém, aqui o espírito é a memória 459. Efetivamente, quando confiamos a alguém<br />

qualquer negócio, para que se lhe grave na memória, dizemos-lhe: "Vê lá, grava-o bem no<br />

teu espírito". E quando nos esquecemos, exclamamos: "Não o conservei no espírito", ou<br />

então: "Escapou-se-me do espírito"; portanto, chamamos espírito à própria memória.<br />

Sendo assim, por que será que ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas a<br />

alma contém a alegria, e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com<br />

a alegria que em si tem, e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui?<br />

Será porque não faz parte da alma? Quem se atreverá a afirmá-lo?<br />

Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a<br />

tristeza são o seu alimento, doce ou amargo. Quando tais emoções se confiam à memória,<br />

podem ali encerrar-se depois de terem passado. por assim dizer, para esse estômago; mas<br />

459 Traduzimos o vocábulo animus ordinariamente por espírito, mas também tem o sentido de alma (anima) ou mente (mens). (N. do T.)

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