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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Por este motivo, nem sequer resta às palavras o ofício de, ao menos, manifestarem<br />

o pensamento de quem fala, pois é incerto se este sabe ou não o que diz. Acrescenta o<br />

caso dos mentirosos e enganadores e facilmente compreen-derás que, com as palavras,<br />

eles não só não revelam, mas até ocultam o pensamento. De maneira alguma duvido que<br />

as palavras das pessoas sinceras se esforcem e, por assim dizer, façam questão de<br />

manifestar o espírito de quem fala, o que conseguiriam, com aprovação de todos, se não<br />

fosse permitido aos mentirosos falarem. Entretanto, várias vezes experimentamos em nós<br />

mesmos e nos outros que as palavras não expressam o que se pensa; e vejo que isto pode<br />

acontecer de duas maneiras: ou quando as palavras que gravamos é muitas vezes<br />

repetimos saem da boca de quem pensa em algo diferente, o que acontece volta e meia<br />

quando cantamos um hino; ou quando, ao contrário, nos escapam umas palavras, em vez<br />

de outras, contra a nossa vontade, por um lapso da própria língua; também aqui não são<br />

ouvidos os sinais das coisas que temos na mente. Os mentirosos, sem dúvida, pensam<br />

também as coisas que dizem, de forma que, embora não saibamos se falam a verdade,<br />

sabemos porém que eles têm em mente o que dizem, a não ser que lhes aconteça uma das<br />

duas coisas que disse acima: e se alguém objetar que, às vezes, podem acontecer, e que,<br />

quando acontecem, aparecem, ainda que possam freqüentemente ficar ocultas e que eu,<br />

ao ouvi-las, às vezes também fique enganado, não me oponho.<br />

Mas a este se acrescenta outro caso, bastante freqüente e origem de inúmeros<br />

dissentimentos e disputas: quando quem fala exprime, na verdade, o que pensa, mas<br />

apenas para si e para alguns, e não para aquele com quem está falando e para os demais.<br />

Por exemplo, se alguém em nossa presença dissesse que o homem é superado em valor<br />

por alguns animais, não poderíamos tolerá-lo e imediatamente refutaríamos com grande<br />

energia esta tão falsa e perniciosa afirmação; e talvez por valor ele entenda as forças do<br />

corpo e com este nome enuncie mesmo o que pensava, sem que minta, sem que se<br />

engane no fato, sem que oculte as palavras gravadas na memória, agitando na mente<br />

alguma outra coisa, sem que por um lapso da língua emita um som diverso do que<br />

corresponde ao seu - pensamento; mas apena chama com um nome diverso do nosso a<br />

coisa que pensa: nós teríamos concordado imediatamente com ele, se nos tivesse sido<br />

possível intuir o seu pensamento, que não conseguiu explicar-nos com as palavras<br />

pronunciadas e com sua afirmação. Dizem que a um tal erro pode remediar a definição;<br />

assim, se nesta questão se define o que é valor (virtus), tornar-se-ia claro, dizem, que a

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