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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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sou eu que me lembro, eu, o meu espírito. Não é de admirar que esteja longe de mim tudo<br />

o que não sou eu. Todavia, que há mais perto de mim do que eu mesmo?<br />

Oh! nem sequer chego a compreender a força da minha memória, sem a qual não<br />

poderia pronunciar o meu próprio nome! Que direi eu, pois, quando tenho a certeza de<br />

que me lembro do esquecimento? Poderei afirmar que não existe na minha memória<br />

aquilo de que me não lembro? Ou então, que o esquecimento está na minha memória,<br />

para que o não esqueça? .<br />

Ambas estas hipóteses são, em extremo, absurdas. Vejamos, pois, a terceira, que<br />

antes insinuei. Com que fundamento posso alvitrar que é a imagem do esquecimento, e<br />

não o próprio esquecimento, que está gravado na memória, quando dele me lembro?<br />

Como poderei afirmar tal hipótese, se, quando a imagem de qualquer objeto se nos<br />

imprime na memória, é preciso que primeiro o próprio objeto nos esteja presente, para,<br />

que nos possa ser gravada a imagem? E assim que relembro Cartago, todos os lugares em<br />

que estive, os rostos das pessoas que vi, todos os objetos anunciados pelos outros<br />

sentidos e, do mesmo modo, a saúde e as dores do próprio corpo. Quando a memória<br />

tinha estas coisas presentes, tomou-lhes as imagens, para eu, depois, as poder contemplar<br />

e repassar no espírito, ao recordá-las quando ausentes.<br />

Se, pois, é pela imagem, e não por si mesmo, que o esquecimento se enraíza na<br />

memória, foi preciso que se achasse presente para que a memória pudesse captar a<br />

imagem. Como pôde o esquecimento, quando estava presente, gravar a sua imagem na<br />

memória, se ele, com a sua presença, apaga tudo o que lá encontra impresso? Enfim, seja<br />

como for, apesar de ser inexplicável e incompreensível o modo como se realiza este fato,<br />

estou certo de que me lembro do esquecimento, que nos varre da memória tudo aquilo de que nos<br />

lembramos.<br />

17<br />

Da memória a Deus<br />

26. Grande é a potência da memória, ó meu Deus! Tem não sei quê de horrendo,<br />

uma multiplicidade profunda e infinita. Mas isto é o espírito, sou eu mesmo. E que sou<br />

eu, ó meu Deus? Qual é a minha natureza? Uma vida variada de inumeráveis formas com<br />

amplidão imensa 461.<br />

461 O homem, segundo este belo pensamento agostiniano, é uma vivência repleta de formas, com horizontes sobre o infinito. (N. do T.)

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