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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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ondas, os rios, os astros que contemplei e o oceano em que acredito por testemunho<br />

alheio 456.<br />

Mas, ao presenciá-los com os olhos, não os absorvi com a vista: residem em mim,<br />

não os próprios objetos, mas as suas imagens. Conheço com que sentido do corpo me foi<br />

impressa cada imagem.<br />

9<br />

A memória intelectual<br />

16. Não é só isto o que a capacidade imensa da minha memória encerra. Também<br />

lá se encontra tudo o que não esqueci, aprendido nas artes liberais.<br />

Estes conhecimentos estão como que retirados num lugar mais íntimo, que não é<br />

lugar. Ora, eu não trago comigo as suas imagens, mas as próprias realidades. As noções de<br />

literatura, de dialética, as diferentes espécies de questões e todos os conhecimentos que<br />

tenho a este respeito existem também na minha memória, mas de tal modo que, se não<br />

retivesse a imagem, deixaria/ora o objeto 457. Neste caso sucederia como à voz que ressoa e logo<br />

passa, deixando nos ouvidos a impressão dum rasto que no-la faz recordar, como se<br />

continuasse a ressoar quando na realidade já não ressoa. Sucederia como ao perfume, que,<br />

ao passar e desvanecer-se nos ares, afeta o olfato, donde transmite para a memória a sua<br />

imagem, que se reproduz com a lembrança; como ao alimento, que no estômago perde o<br />

sabor, mas parece conservá-lo na memória; finalmente, como acontece a qualquer objeto<br />

que o corpo sente pelo tato e que a memória imagina, mesmo quando afastado de nós.<br />

De fato, todas estas realidades não nos penetram na memória. Só as suas imagens é<br />

que são recolhidas com espantosa rapidez e dispostas, por assim dizer, em células<br />

admiráveis, donde admiravelmente são tiradas pela lembrança.<br />

10<br />

A memória e os sentidos<br />

17. Quando ouço dizer que há três espécies de questões, a saber: "se uma coisa<br />

existe (an sit?), qual a sua natureza (quid sit?) e qual a sua qualidade (quale sit?)", retenho as<br />

456 O oceano era para os antigos romanos o mar que cercava toda a terra. Era particularmente o Atlântico que recebia este nome. Cícero,<br />

por exemplo, no Sonho de Cipião: "A terra está rodeada daquele mar que se chama Atlântico, o Grande, o Oceano..." <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong><br />

apenas sulcou as ondas do Mediterrâneo e do mar Tirreno, onde não há marés. Porém o seu discípulo Paulo Orósio, natural de Braga,<br />

poder-lhe-ia descrever as marés do Atlântico nas praias lusitanas, (N. do T.)<br />

457 Distingue <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong> entre ciência e imagens de objetos. A ciência está em nós sem imagens, e os objetos estão em nós pelas suas<br />

imagens. (N. do T.)

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