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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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coração. Escrevi, por isso, os tratados De Pulchro et Apto' 146, creio que em dois ou três<br />

livros. Vós o sabeis, meu Deus. Eu já me esqueci. Já os não possuo. Desapareceram-me,<br />

não sei como.<br />

14<br />

Homenagem a Hiério<br />

21. Que motivo, Senhor e Deus meu, me levou a dedicar este tratado a Hiério,<br />

orador de Roma? Não o conhecia pessoalmente. Apenas o estimava pela brilhante<br />

reputação de ciência e por algumas palavras que, ao ouvi-las repetir, me agradaram. Era-<br />

me simpático sobretudo por agradar aos outros e todos o cumularem de louvores.<br />

Admiravam-se de que um sírio de nascimento, já mestre de eloqüência grega, chegasse a<br />

orador admirável da língua latina, e fosse sábio profundo em assuntos de ciências<br />

filosóficas.<br />

Louva-se um homem, e, ainda que se encontre ausente, é amado. Mas esse amor,<br />

que sai da boca do que louva, entrará no coração do que ouve? Não; mas o amor de um<br />

acende-se com o amor do outro. Por isso só se ama o que é louvado quando se está<br />

persuadido de que esses louvores partem dum coração que não engana; quer dizer,<br />

quando é o afeto (sincero) que o louva.<br />

22. Assim é que eu amava, então, os homens regulando-me pelo juízo dos mesmos<br />

homens, e não pelo vosso, o meu Deus, no qual ninguém se engana. Mas por que os não<br />

louvava como se louva um cocheiro triunfante ou um caçador do circo, aclamado pelas<br />

ovações populares? Pelo contrário, por que os louvava de modo tão diferente, com<br />

ponderação e da mesma maneira como eu o queria ser? Certamente não desejava ser<br />

louvado e estimado como os comediantes, apesar de também eu os elogiar e amar. A<br />

escolher, queria antes ficar obscuro que tornar-me célebre com a arte deles. Assim, antes<br />

queria ser odiado que amado.<br />

Como se podem manter numa alma propensões de amor tão variado e diferente?<br />

Como amo noutrem o que odeio e repilo para longe de mim? Não somos ambos<br />

porventura homens? Não se pode efetivamente aplicar ao histrião, companheiro de nossa<br />

natureza, o que se diz dum bom cavalo que alguém estima, e ao qual ninguém se quer<br />

assemelhar, mesmo no caso de isso ser possível?<br />

146 Do Belo e do Conveniente — o primeiro livro de <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong>, escrito em 380. Perdeu-se. (N. doT.)

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