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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Agora ele vive no "seio de Abraão 369" — qualquer que seja o significado de "seio";<br />

nele vive o meu Nebrídio, o meu doce amigo, e com relação a Vós, Senhor, o vosso filho<br />

que, de liberto, tornastes adotivo. Aí vive 370. Pois, para essa alma, que lugar existe<br />

diferente daquele? Aí vive, nesse sítio a respeito do qual me fazia muitas perguntas, a<br />

mim, homenzinho ignorante. Já não aproxima o seu ouvido da minha boca, mas aproxima<br />

a sua boca espiritual da vossa fonte, e bebe, até mais não poder, a Sabedoria, em<br />

proporção da sua avidez, feliz para sempre. Nem creio que se inebrie de tal sorte com ela<br />

que se esqueça de mim, quando é certo que Vós, Senhor, de quem ele bebe, Vos lembrais<br />

de mim.<br />

Assim éramos nós. Consolávamos Verecundo, que nos permanecia fiel à amizade,<br />

apesar da nossa conversão ser para ele objeto de tristeza. Exortávamo-lo à fidelidade no<br />

seu estado, isto é, na vida conjugai, esperando a ocasião de ele nos seguir. Isto, podia<br />

realizá-lo brevemente, e estava mesmo a ponto de o fazer. Enfim decorreram aqueles dias<br />

que pareciam muitos e longos por causa do amor da liberdade que eu queria para poder<br />

cantar, no íntimo do meu ser: "Disse o meu coração: busquei o vosso rosto, Senhor; de<br />

novo o procurarei 371".<br />

4<br />

Na quinta de Cassicíaco<br />

7. Chegou o dia em que, na realidade, me devia libertar da profissão de retórico, da<br />

qual já estava desligado no pensamento. Assim sucedeu. Livrastes a minha língua do lugar<br />

de que me tínheis já libertado o coração. Eu Vos bendizia, partindo radiante de júbilo para<br />

a casa do campo, com todos os meus 372.<br />

O que aí realizei nas letras — já incontestavelmente em vosso serviço, mas<br />

respirando ainda a soberba da escola, como o leitor numa pausa — atestam-no os livros<br />

de disputas com os presentes 373, ou só comigo na vossa presença 374. O que tratei em<br />

369<br />

Lc 16, 22.<br />

370<br />

Superlativamente emocional, poucos corações amaram tanto como <strong>Agostinho</strong>. O seu lirismo incendeia-se em novas labaredas quando<br />

trata da amizade. Com que doçura e saudade o filho de Mônica se refere aos amigos que a morte arrebatara! (N. do T.)<br />

371<br />

Sl 26, 8.<br />

372<br />

Cassicíaco, para onde se retirou <strong>Agostinho</strong>, chama-se hoje Cassago de Brianza, situado à distância de sete léguas de Milão. Está<br />

encravado no meio dos montes. Na colina onde existia a casa de Verecundo, levantaram, séculos mais tarde, os duques Visconti di Modrone,<br />

um palácio. (N. do T.)<br />

373<br />

Esses livros em forma de diálogo têm por título: Contra Acadêmicos (trata da certeza e da verdade); Da Vida Feliz (onde se prova que a<br />

verdadeira felicidade reside na filosofia); Da Ordem (sobre a ordem do mundo e o problema do mal). (N. do T.)<br />

374<br />

Refere-se ao livro dos Solilóquios. <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong> permaneceu em Cassicíaco desde setembro de 386 até março de 387. (N. do T.)

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