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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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31. Estancado o pranto de Adeodato, Evódio, tomando um saltério, começou a<br />

cantar um salmo ao qual todos respondíamos: "Cantar-Vos-ei, Senhor, a misericórdia e a<br />

justiça 422".<br />

Informando-se do que se passava, concorreram muitos dos nossos irmãos e<br />

mulheres piedosas. Enquanto aqueles que costumavam encarregar-se dos funerais<br />

exerciam seu ofício, eu, em lugar onde a boa educação mo permitia, falava com os meus<br />

amigos, que julgavam não me dever deixar só. Falava de assuntos conforme a minha<br />

situação, e com o bálsamo da verdade procurava mitigar os sofrimentos que só Vós<br />

conhecíeis e eles ignoravam. Escutavam-me com atenção, julgando que não sentia<br />

nenhuma dor. Porém eu, pertinho de vossos ouvidos, onde nenhum amigo me ouvia,<br />

censurava a ternura da minha sensibilidade e esforçava-me por reprimir a onda de tristeza<br />

que me invadia. Cedia ela um pouco ao meu esforço para de novo se insurgir impetuosa,<br />

sem contudo me fazer brotar as lágrimas ou me alterar o rosto. Mas eu sabia o que<br />

comprimia no coração!<br />

Desgostava-me, profundamente, ser tão sensível a estas vicissitudes humanas que<br />

irremediavelmente acontecem conforme a ordem natural e a sorte de nossa condição. Por<br />

isso, a minha dor suscitava-me uma nova dor, e afligia-me com uma dupla tristeza.<br />

32. Foi conduzido o cadáver à sepultura. Fui e voltei, sem derramar lágrimas. Nem<br />

mesmo chorei durante as orações que Vos dirigimos, ao ser oferecido o Sacrifício da<br />

nossa redenção pela defunta, cujo cadáver já estava depositado junto do sepulcro, antes de<br />

o enterrarem, como ali é costume. Nem sequer chorei durante as orações ! Mas todo o dia<br />

senti, no meu íntimo, uma tristeza oprimente.<br />

Com o espírito agitado Vos suplicava, com todas as forças, que sarásseis a minha<br />

dor. Creio que, se mo não concedíeis, era para gravardes na minha memória, ao menos<br />

por esta única experiência, quanto são poderosos os laços do hábito até na alma que já se<br />

não alimenta com palavras enganadoras. Lembrei-me de ir ao banho; ouvira dizer que este<br />

nome lhe fora dado por causa dos gregos lhe chamarem balanêion, por aliviar o espírito de<br />

angústias. Confesso também isso à vossa misericórdia, ó Pai dos órfãos, confesso que<br />

depois do banho fiquei como estava, sem conseguir expulsar do coração esta amarga<br />

tristeza. Depois adormeci.<br />

422 Sl 100. 13.

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