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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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céu e a terra foram criados; outro pensa que a expressão se aplica a naturezas formadas e<br />

distintas; outro sustenta que pela palavra "céu" se designa a substância formada e<br />

espiritual, e pelo vocábulo "terra" a substância informe e corporal.<br />

Aqueles,porém, que entendem pelas palavras "céu e terra" a matéria ainda informe,<br />

com a qual se haviam de formar o céu e a terra, esses não são unânimes nessa mesma<br />

interpretação: um pretende que dessa matéria hão de provir as criaturas inteligentes e<br />

sensíveis; outro julga que dela somente há de nascer uma certa massa sensível e corpórea<br />

contendo, no seu volumoso seio, todas as substâncias lúcidas e já visíveis 631.<br />

Também não são concordes os que crêem que, neste texto, se chama "céu e terra"<br />

às criaturas já dispostas e coordenadas. Um pretende que significa o mundo invisível e<br />

visível; outro, a natureza visível, na qual vemos o céu luminoso e a terra caliginosa, com<br />

tudo o que neles há.<br />

29<br />

Objeções e prioridade da matéria<br />

40. Mas aquele que às palavras "no princípio criou" dá este mesmo sentido como<br />

se dissessem: "primeiramente criou", esse não tem outra possibilidade de entender com<br />

verdade "céu" e "terra" senão significando por estes vocábulos a matéria do céu e da terra,<br />

isto é, a criação universal, ou, por outros termos, a criação espiritual e material. Pois, se<br />

quisesse referir-se ao conjunto da criação já formado, poder-se-lhe-ia com razão<br />

perguntar: "Se Deus criou isto em primeiro lugar, o que criou em seguida?" Depois do<br />

conjunto da criação nada mais encontrará que fosse criado, e, por isso, há de ouvir com<br />

desprazer esta pergunta: "Como criou primeiramente aquilo, se nada criou depois?"<br />

Quando porém afirma que ao princípio a matéria era informe e que depois a<br />

dotara duma forma, isto já não é absurdo, ainda que importe distinguir o que seja<br />

prioridade quanto à eternidade, ao tempo, ao apreço, à origem: quanto à eternidade, por<br />

exemplo, Deus antecede tudo; quanto ao tempo, a flor antecede o fruto; quanto ao<br />

apreço, o fruto antecede a flor; quanto à origem, o som antecede o canto. Destas quatro<br />

afirmações, a primeira e a última que citei dificilmente se compreendem; as duas<br />

intermediárias, porém, entendem-se com facilidade. Com efeito, é raro e dificultoso ao<br />

631 A <strong>Santo</strong> <strong>Agostinho</strong> não repugnava que houvesse matéria espiritual mais lúcida, mais transparente e mais fluida que a deste mundo. No<br />

livro inacabado De Genesi (IV, 17), diz: "Pode entender-se por espírito de Deus uma criatura vital em que este universo, o mundo visível e<br />

todos os corpos se contêm ..." (N. do T.)

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