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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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11. Portanto, quando se indaga a razão por que se praticou um crime, esta<br />

ordinariamente não é digna de crédito, se não se descobre que a sua causa pode ter sido<br />

ou o desejo de alcançar alguns dos bens a que chamamos ínfimos, ou o medo de os<br />

perder. Esses bens são, sem dúvida, belos e atraentes, ainda que, comparados com os<br />

superiores e celestes, não passem de desprezíveis e abjetos.<br />

Alguém matou um homem. E por quê? Ou porque lhe amava a esposa ou o<br />

campo, ou porque queria roubar para viver, ou porque temia que lhe tirasse alguma coisa,<br />

ou finalmente porque, injuriado, ardia no desejo de vingança. Quem acreditará que<br />

cometeu o homicídio só por deleite, se até Catilina, aquele homem louco e crudelíssimo,<br />

de quem se disse ser perverso e cruel sem razão, tinha um motivo: "o receio", diz o<br />

historiador, "de que o ócio lhe entorpecesse as mãos e o espírito 83"? Por que fim procedia<br />

ele assim? Evidentemente, para que, exercitado no crime, alcançasse, depois de tomada a<br />

cidade de Roma, as honras, o poder e as riquezas, libertando-se do medo das leis e da<br />

dificuldade em que o lançara a pobreza da herança e a consciência do crime. Logo, nem o<br />

mesmo Catilina amou seus crimes, mas aquilo por cujo fim os cometia.<br />

6<br />

A alegria do mal<br />

12. Que amei eu, miserável, em ti, ó meu furto, crime noturno dos meus dezesseis<br />

anos? Não tinhas beleza alguma, pois eras um roubo! Mas és realmente alguma coisa, para<br />

eu me dirigir a ti? As peras que roubamos, sim, eram belas por serem criaturas vossas, ó<br />

mais belo de todos os seres, Criador de tudo, ó Deus tão bom, Deus soberano e meu<br />

verdadeiro Bem. Aqueles pomos eram belos; mas não foram esses que a minha alma<br />

depravada apeteceu, pois tinha abundância doutros melhores. Colhi-os simplesmente para<br />

roubar. Tanto é assim que, depois de colhidos, os lancei fora, banqueteando-me só na<br />

iniqüidade com cujo gozo me alegrara. Se algum dos frutos entrou em minha boca, foi o<br />

meu crime que lhes deu o sabor.<br />

Agora, Senhor e Deus meu, procuro saber o que me deleitava no furto, e não lhe<br />

encontro beleza alguma 84. Não falo já da beleza que se encontra na justiça e prudência, na<br />

inteligência do homem, na memória, nos sentidos e na vida vegetativa; nem mesmo da<br />

83 Cf. Salústio, Cat. 16. (N. do T.)<br />

84 Admirem-se nesta e noutras passagens "as análises interiores, estas maravilhas da psicologia" a que se refere Henry de Lubac no livro<br />

Catholicisme. (N. do T.)

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