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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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8<br />

O prazer da cumplicidade<br />

16. Que fruto nessa ocasião colhi eu, miserável, das ações que agora, ao recordá-<br />

las, me fazem corar de vergonha, nomeadamente daquele roubo, em que amei o próprio<br />

roubo e nada mais? Nenhum, pois o furto nada valia, e, com ele, me tornei mais<br />

miserável. Sozinho não o faria — lembro-me de que era esta a minha disposição, naquele<br />

momento; sim, absolutamente só, não era capaz de o fazer. Portanto, amei também no<br />

furto o consórcio daqueles com quem o cometi. Amei, por isso, mais alguma coisa do que<br />

o furto. Mas não: não amei mais nada, porque a cumplicidade nada vale.<br />

Que é esta, na realidade? Quem mo ensinará senão Aquele que ilumina o meu<br />

coração, rasgando-lhe as sombras? Por que ocorreu ao meu espírito estar aqui a inquirir,<br />

discutir e considerar tais particularidades? Se então amasse os pomos que furtei e com eles<br />

me apetecesse regalar, poderia tê-los roubado sozinho, se isso bastasse. Poderia ter<br />

cometido a iniqüidade por onde cheguei ao meu deleite, sem acender, com a fricção de<br />

almas cúmplices, o prurido da minha cobiça. Mas porque não experimentava prazer<br />

naqueles furtos, este consistia na própria falta que praticavam os pecadores<br />

simultaneamente, em cumplicidade.<br />

9<br />

O riso da maldade<br />

17. Que sentimento era aquele da minha alma? Sem dúvida, um sentimento<br />

muitíssimo vergonhoso; e ai de mim que o mantinha! Mas, enfim, que era ele? "Quem<br />

conhece todos os delitos? 88" Era um riso, como que a fazer-nos cócegas no coração,<br />

provocado pelo gosto de enganar os que tinham como impossível o nosso feito e<br />

vivamente o detestavam.<br />

Qual o motivo por que me deleitava o não estar sozinho, quando cometia o furto?<br />

Seria porque ninguém facilmente se ri, quando está só? É certo que, sozinho, ninguém se<br />

ri facilmente. Mas, se alguma coisa demasiado ridícula acode aos sentidos ou à<br />

88 Sl 18, 13.

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