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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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imagem não residisse na minha memória, de modo nenhum poderia recordar a<br />

significação que tem o som desta palavra. Os doentes, ao ouvirem o nome "saúde", não<br />

saberiam de que se trata, se a força da memória lhes não conservasse a própria imagem,<br />

embora a realidade esteja longe do corpo.<br />

Pronuncio os nomes dos números por que contamos. Ficam-me presentes na<br />

memória não as suas imagens, mas os próprios números. Evoco a imagem do Sol e logo<br />

se me apresenta na memória. Neste caso, eu não recordo a imagem duma imagem, mas a<br />

própria imagem. É ela que se me apresenta quando a relembro. Nomeio a palavra<br />

"memória" e reconheço o que nomeio. Onde o reconheço senão na própria memória?<br />

Mas então está ela presente a si mesma, pela sua imagem, e não por si própria?<br />

16<br />

A memória lembra-se do esquecimento<br />

24. E mesmo quando falo no esquecimento e conheço o que pronuncio, como<br />

poderia reconhecê-lo, se dele me não lembrasse? Não falo do som desta palavra, mas do<br />

objeto que exprime. Se o esquecesse, não me poderia lembrar do que esse som significava.<br />

Ora, quando me lembro da memória, esta fica presente a si, por si mesma. Quando me<br />

lembro do esquecimento, estão ao mesmo tempo presentes o esquecimento e a memória:<br />

a memória que faz com que me recorde, e o esquecimento que lembro.<br />

Que é esquecimento senão a privação da memória? E como é, então, que o<br />

esquecimento pode ser objeto da memória se, quando está presente, não me posso<br />

recordar? Se nós retemos na memória aquilo de que nos lembramos, e se nos é<br />

impossível, ao ouvir a palavra "esquecimento", compreender o que ela significa, a não ser<br />

que dele nos lembremos, conclui-se que a memória retém o esquecimento. A presença do<br />

esquecimento faz com que o não esqueçamos; mas quando está presente, esquecemo-nos.<br />

Não se deverá concluir que o esquecimento, quando o recordamos, está presente na<br />

memória, não por si mesmo, mas por uma imagem sua? De fato, se ele estivesse presente<br />

por si mesmo, faria com que o não lembrássemos, mas o esquecêssemos. Quem poderá<br />

penetrar, quem poderá compreender o modo como isto se realiza?<br />

25. Eu, Senhor, cogito este problema, trabalho em mim mesmo, transformei-me<br />

numa terra de dificuldades e de suor copioso. Agora já não escalo as regiões do<br />

firmamento; não meço as distâncias dos astros; não procuro as leis do equilíbrio da Terra;

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