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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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alimentos não nos socorrer, a fome e a sede tornam-se tormentos que abrasam e matam<br />

como a febre. Ora, estando este remédio sempre ao nosso alcance, graças à liberalidade<br />

dos vossos dons, que faz com que a terra, a água e o céu sirvam à nossa enfermidade,<br />

chamamos delícias a tal desgraça.<br />

44. Ensinastes-me a tomar os alimentos, só como remédio. Mas, quando passo do<br />

tormento da indigência ao descanso da saciedade, o laço da concupiscência arma-me<br />

ciladas no caminho. Com efeito, esta passagem é um prazer, e não há outro por onde se<br />

possa ir para chegar aonde a necessidade nos obriga.<br />

Sendo a saúde o motivo do comer e beber, o prazer junta-se a esta necessidade,<br />

como um companheiro perigoso. Ordinariamente procura ir adiante, para que se faça por<br />

ele o que, segundo vou dizendo, faço ou quero fazer por causa da saúde. Ora, o limite não<br />

é o mesmo para ambos os casos, pois o que basta à saúde é insuficiente para o prazer.<br />

Muitas vezes não se vê bem ao certo se é o cuidado necessário do corpo que pede<br />

esse esforço do alimento, ou se é a voluptuosa e enganadora sensualidade que exige ser<br />

servida. A infeliz alma alegra-se com esta incerteza, e nela procura o apoio duma escusa,<br />

regozijando-se com não poder determinar o que é suficiente para o cuidado moderado da<br />

saúde. Por isso, sob pretexto da sua conservação, encobre a satisfação do prazer.<br />

Esforço-me todos os dias por resistir a estas tentações, invocando, em meu auxílio,<br />

a vossa destra, e submetendo-Vos as minhas incertezas, porque nesta matéria ainda não<br />

está firme o meu parecer.<br />

45. Ouço a voz do meu Deus, que me ordena: "Não se façam pesados os vossos<br />

corações com a intemperança e a embriaguez 482". A embriaguez está longe de mim. Vós<br />

tereis compaixão da minha alma, não a deixando aproximar-se de mim.<br />

A intemperança, porém, algumas vezes arrasta o vosso servo, mas compadecer-<br />

Vos-eis de mim, e a vossa misericórdia afastá-la-á para longe. Ninguém pode ser<br />

continente se Vós não lhe dais graça. Concedeis-nos muitos benefícios quando Vos<br />

invocamos. Todo o bem que recebemos antes de orar, recebemo-lo de Vós. Enfim, é<br />

ainda um dom que nos concedeis o reconhecermos depois como vosso esse benefício.<br />

Nunca estive embriagado. Mas conheci muitos que foram vítimas de tal vício e, pela vossa<br />

graça, tornaram-se sóbrios. Os que nunca foram inclinados à embriaguez devem-no a<br />

482 Lc 21, 34.

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