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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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Falávamos a sós, muito docemente, "esquecendo o passado e ocupando-nos do<br />

futuro 412". Na presença da Verdade, que sois Vós, alvitrávamos qual seria a vida eterna<br />

dos santos, "que nunca os olhos viram, nunca o ouvido ouviu, nem o coração do homem<br />

imaginou 413". Sim, os lábios do nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste<br />

"da Vossa fonte, a fonte da Vida 414", que está em Vós, para que, aspergidos segundo a<br />

nossa capacidade, pudéssemos de algum modo pensar num assunto tão transcendente.<br />

24. Encaminhamos a conversa até à conclusão de que as delícias dos sentidos do<br />

corpo, por maiores que sejam, e por mais brilhante que seja o resplendor sensível que as<br />

cerca, não são dignas de comparar-se à felicidade daquela vida, nem merecem que delas se<br />

faça menção.<br />

Elevando-nos em afetos mais ardentes por essa felicidade, divagamos<br />

gradualmente por todas as coisas corporais até o próprio céu, donde o Sol, a Lua e as<br />

estrelas iluminam a terra. Subíamos ainda mais em espírito, meditando, falando e<br />

admirando as vossas obras. Chegamos às nossas almas e passamos por elas para atingir<br />

essa região de inesgotável abundância, onde apascentais eternamente Israel com o pastio<br />

da verdade. Ali a vida é a própria Sabedoria, por quem tudo foi criado, tudo o que existiu<br />

e o que há de existir, sem que ela própria se crie a si mesma, pois existe como sempre foi<br />

e como sempre será. Antes, não há nela ter sido, nem haver de ser, pois simplesmente "é",<br />

por ser eterna. Ter sido e haver de ser não são próprios do Ser eterno.<br />

Enquanto assim falávamos, anelantes pela Sabedoria, atingimo-la<br />

momentaneamente num ímpeto completo do nosso coração. Suspiramos e deixamos lá<br />

agarradas "as primícias do nosso espírito 415". Voltamos ao vão ruído dos nossos lábios,<br />

onde a palavra começa e acaba. Como poderá esta, meu Deus, comparar-se ao vosso<br />

Verbo, que subsiste por si mesmo, nunca envelhecendo e tudo renovando?<br />

25. Dizíamos pois: Suponhamos uma alma onde jazem em silêncio a rebelião da<br />

carne, as vãs imaginações da terra, da água, do ar e do céu. Suponhamos que ela guarda<br />

silêncio consigo mesma, que passa para além de si, nem sequer pensando em si; uma alma<br />

na qual se calem igualmente os sonhos e as revelações imaginárias, toda a palavra humana,<br />

todo o sinal, enfim, tudo o que sucede passageiramente.<br />

412<br />

Flp 3, 13.<br />

413<br />

1 Cor 2, 9.<br />

414<br />

Sl 30, 10.<br />

415<br />

Rom 8, 23.

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