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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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estávamos sentados. Com efeito, não só o ir ao céu, mas também o atingi-lo não são mais<br />

que o querer ir, mas um querer forte e total, não uma vontade tíbia que anda e desanda<br />

daqui para ali, que luta consigo mesma, erguendo-se num lado e caindo no outro.<br />

20. Enfim, naquelas hesitações causadas pela dúvida, fazia os gestos que costumam<br />

fazer os homens que querem e não podem, ou porque não possuem membros ou porque<br />

os têm ligados com cadeias, debilitados pela fraqueza, ou de qualquer modo impedidos.<br />

Agarrei o cabelo, feri a fronte, apertei os joelhos entre os dedos entrelaçados. Fiz todos<br />

estes gestos porque quis. Poderia, porém, querer e não os fazer, se a flexibilidade dos<br />

membros , me não obedecesse.<br />

Fiz, portanto, muitos movimentos, quando o querer não era o mesmo que o<br />

poder. Não fiz o que incomparavelmente desejava muito mais, apesar de o poder fazer<br />

logo que quisesse, porque, para o querer, basta querer sinceramente. Ora, aqui a faculdade<br />

de poder identificava-se com a vontade; o querer era já praticar. E contudo não acontecia<br />

assim, porque o corpo, movendo ao mínimo sinal os membros, obedecia mais facilmente<br />

à vontade fraquíssima da alma, do que a própria alma se obedecia a si mesma para efetuar<br />

a sua grande vontade, só com a vontade.<br />

9<br />

A vontade em guerra<br />

21. Donde vem este prodígio? Qual o motivo? Fazei que brilhe a vossa<br />

misericórdia, e eu pergunte, pois talvez me possam responder os castigos sombrios dos<br />

homens e as tenebrosíssimas desolações dos filhos de Adão. Donde provém este<br />

prodígio? Qual a causa? A alma manda ao corpo, e este imediatamente lhe obedece; a<br />

alma dá uma ordem a si mesma, e resiste! Ordena a alma à mão que se mova, e é tão<br />

grande a facilidade, que o mandado mal se distingue da execução. E a alma é alma, e a<br />

mão é corpo ! A alma ordena que a alma queira; e, sendo a mesma alma, não obedece.<br />

Donde nasce este prodígio? Qual a razão? Repito: a alma ordena que queira — porque se<br />

não quisesse não mandaria —, e não executa o que lhe manda!<br />

Mas não quer totalmente. Portanto, também não ordena terminantemente. Manda<br />

na proporção do querer. Não se executa o que ela ordena enquanto ela não quiser, porque<br />

a vontade é que manda que seja vontade. Não é outra alma, mas é ela própria. Se não<br />

ordena plenamente, logo não é o que manda, pois, se a vontade fosse plena, não ordenaria

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