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07 – Santo Agostinho - Charlezine

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próprio uso das palavras já é de se antepor às mesmas; as palavras, pois, existem para que<br />

as usemos, e as usamos para ensinar. Logo, é melhor ensinar que falar, e, assim, é melhor<br />

o discurso que a palavra. Muito melhor que as palavras é, portanto, a doutrina. Mas desejo<br />

ouvir o que, por acaso, tenhas a opor. ADEODATO — Concordo em que a doutrina seja<br />

melhor que as palavras; mas não sei se não há algo a objetar contra esta regra com que se<br />

diz: "tudo o que existe devido a uma outra coisa é inferior àquilo pelo qual existe".<br />

AGOSTINHO<br />

— Trataremos disto mais oportunamente e com maior diligência em outra ocasião:<br />

por enquanto, o que me concedes é-me suficiente para chegar aonde me proponho.<br />

Concedes-me, pois, que o conhecimento das coisas é mais precioso que os sinais das<br />

mesmas. Logo, o conhecimento das coisas que são significadas há de preferir-se ao<br />

conhecimento dos sinais; ou não te parece?<br />

ADEODATO<br />

— Mas eu concedi, por acaso, que o conhecimento das coisas é superior ao dos<br />

sinais, ou antes, que é superior aos próprios sinais? Por isto hesito em concordar contigo<br />

neste ponto. Se o nome "lamaçal" é melhor que a coisa por ele indicada, por que o<br />

conhecimento deste nome não haveria de ser preferido também ao da coisa, embora o<br />

nome por si seja inferior aquele conhecimento? Temos aqui quatro termos: nome, coisa,<br />

conhecimento do nome, conhecimento da coisa. Como o primeiro é superior ao segundo,<br />

por que também o terceiro não é superior ao quarto? E, se não é superior, há de também<br />

estar-lhe subordinado?<br />

AGOSTINHO<br />

— Percebo que guardas na memória maravilhosamente bem o que concedeste, e<br />

que explicaste claramente a tua opinião. Mas, creio eu, compreendes que este nome<br />

trissílabo "vitium " (vício), quando o pronunciamos, é melhor, como som, do que aquilo<br />

que significa; no entanto, o conhecimento do simples nome é muito inferior ao<br />

conhecimento dos vícios. Assim, ainda que tu estabeleças e consideres aqui também os<br />

quatro termos: nome e coisa, conhecimento do nome e conhecimento da coisa, com<br />

razão nós antepomos o primeiro ao segundo. Quando Pérsio 12 coloca na sua Sátira este<br />

nome, dizendo: "Sed stupet hic vitio" (Mas este se admira do vício), não só não torna viciado<br />

o verso, mas, pelo contrário, de certa maneira dá-lhe beleza apesar de a coisa significada<br />

12 Sat.III,32.

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