01.05.2013 Views

REVISTA N. 24.p65 - Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do ...

REVISTA N. 24.p65 - Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do ...

REVISTA N. 24.p65 - Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

102<br />

ACÓRDÃOS<br />

nalidade da lei, o protraimento <strong>do</strong>s efeitos daí emergentes, por razões<br />

de segurança jurídica ou de excepcional interesse social.<br />

Com tais singelas considerações, dispensada, assim, análise<br />

mais funda da licitude jurídico-formal da simples mantença das casas<br />

solidárias, afasto, no caso, a possibilidade de ditar o grave juízo de<br />

cassação de mandato.<br />

A inicial, porém, não se limita à afirmação da existência das<br />

casas. In<strong>do</strong> além, sustenta, com base no material de propaganda eleitoral<br />

apreendi<strong>do</strong> nos estabelecimentos, que aí estaria caracteriza<strong>do</strong> o<br />

elemento subjetivo indispensável à configuração da ilicitude: benefício<br />

concedi<strong>do</strong> “com o fim de obter-lhe o voto”, o que a lei diz ao se referir<br />

ao eleitor.<br />

Mas será – é a questão que se põe – que a simples presença de<br />

material, posto que farto, de propaganda nas casas preencheria esse<br />

requisito para aplicação da sanção pretendida?<br />

Esse foi o objeto central de minhas reflexões nesses longos<br />

dias fluí<strong>do</strong>s a partir de quan<strong>do</strong> pedi vista <strong>do</strong>s autos. E a conclusão a<br />

que cheguei, pesa<strong>do</strong>s e sopesa<strong>do</strong>s fatores que poderiam indicar uma<br />

ou outra solução, é negativa.<br />

Em se tratan<strong>do</strong>, as casas, de redutos manti<strong>do</strong>s, direta ou indiretamente,<br />

pelo deputa<strong>do</strong>, que lá tem, por certo, oficialmente ou não,<br />

amigos ou correligionários participan<strong>do</strong>, de algum mo<strong>do</strong>, de suas administrações<br />

e funcionamento, representaria exigência incompatível<br />

com a realidade político-eleitoral a inexistência de vestígios, nos locais,<br />

da sua condição de candidato ao pleito que se avizinhava. Ainda<br />

mais nos tempos atuais, em que, como sabi<strong>do</strong>, cada vez mais se evidenciam<br />

dificuldades econômicas para campanhas eleitorais, sen<strong>do</strong><br />

alto o valor <strong>do</strong>s espaços obti<strong>do</strong>s para esse fim.<br />

Então, não soa razoável exigir-se de candidato político, envolvi<strong>do</strong><br />

em pleito eleitoral, tamanho pruri<strong>do</strong>, próprio de santidade, e ainda<br />

mais atrita com a razoabilidade a sanção alvitrada para tal conduta, de<br />

cassação <strong>do</strong> registro ou <strong>do</strong> diploma. É preciso, no julgamento da causa,<br />

optar-se pela realidade em detrimento <strong>do</strong> plano ideal.<br />

Em suma, não vejo como certo, no só fato da existência da propaganda<br />

eleitoral, a finalidade eleitoral <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s. A propaganda<br />

tem a ver com o momento, já que deflagrada a campanha,<br />

mas sem aptidão para alterar a essência de tais serviços, que era e<br />

continuou sen<strong>do</strong> de assistência a necessita<strong>do</strong>s. E essa afirmação não<br />

se vê descaracterizar sequer pela utilização eventual <strong>do</strong>s cadastros<br />

de hóspedes para encaminhamento de correspondências, com cumprimentos<br />

por aniversários e votos de felicidade em Natal e datas festivas,<br />

algo que faz parte natural <strong>do</strong> jogo político.<br />

A esta altura, para que não se me atribua a condição de ingênuo,<br />

impõe-se consignar que não estou a reputar a prática em liça<br />

(abrigos) como absolutamente amorfa em termos eleitorais. Não chego<br />

a tanto. O que afirmo, e reafirmo, pela impressão haurida da análise<br />

<strong>do</strong>s autos, é que a proposta eleitoreira, denunciada na inicial, não é<br />

o seu fim, ao menos principal, o que não exclui, por óbvio, a conse-<br />

Rev. <strong>do</strong> TRE/RS, Porto Alegre, v.12, n.24, jan./jun. 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!