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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REIXO DE PORTUGAL 1/5<br />

scritos, e memorias vamos tecendo esta historia, e tirámos as mais, que<br />

temos posto na luz da impressão, ailirma, que indo elle a Roma no anno<br />

<strong>de</strong> 1571 a hum Capitulo geral, por companheiro do Padre <strong>Fr</strong>ei Nicolao<br />

Dias, que hia por Diiíinidor d*esta Província, passarão por Bolonha, e<br />

acharão ainda vivo o próprio Religioso, Confessor <strong>de</strong> Soror Margarida;<br />

e <strong>de</strong> sua boca recebera toda a or<strong>de</strong>m d'este successo, na forma que temos<br />

contado, e diz que se chamava <strong>Fr</strong>ei Luis Arquivio, è que, com ser<br />

entrado em muita ida<strong>de</strong>, gozava <strong>de</strong> huma velhice robusta, e ver<strong>de</strong>, acom-<br />

panhada <strong>de</strong> boa disposição, e inteiro juizo.<br />

Como a nossa romeira se resolveu em dar fim á sua peregrinação,<br />

caminhos em Bolonha : tratou juntamente <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar sua vivenda <strong>de</strong><br />

maneira, que nenhuma pessoa tivesse occasião <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r com ella, nem<br />

ella tivesse a quem dar razão <strong>de</strong> si, mais que aDeos, e a seu Confessor.<br />

E como isto não era possível conseguir-se, se houvesse <strong>de</strong> andar por<br />

casas alheas, dadas, ou alugadas; <strong>de</strong>parou-lhe Deos no meio d'estes cui-<br />

dados aposento acommodado a seu <strong>de</strong>senho. Notou em huma pedreira<br />

fora dos muros da cida<strong>de</strong>, huma lapa cavada na rocha. Pagou-se <strong>de</strong>lia<br />

para sua morada, por ser <strong>de</strong>sviada do concurso do povo, e solitária. Que<br />

pouco basta para quem <strong>de</strong> huma vez se sabe <strong>de</strong>terminar, e correr con-<br />

tas com o mundo! Aqui se recolhia as noites, e do dia passava só as<br />

horas, que não tinha aberta a Igreja do seu Santo. Cova aberta, e no<br />

campo, bem nos <strong>de</strong>clara qual seria a cama, e o mais enxoval. Não <strong>de</strong>via<br />

passar <strong>de</strong> alguma pouca <strong>de</strong> má palha, que antes fizesse asco, que cobiça<br />

a quem a visse. Pouco teme ladroes, diz o provérbio, quem caminha<br />

sem bolça. Sem receio <strong>de</strong> ser roubada, sahia cm amanhecendo para o<br />

Convento, ouvia sua missa, e assistia em oração, até que a obrigava a<br />

levantar-se a hora <strong>de</strong> se cerrarem as portas da Igreja. D'aqui hia procu-<br />

rando alcançar por esmola quanto bastava para sustentar a vida, que era<br />

assaz pouco; e logo tornava ao Convento, a dar o resto do dia a Deos.<br />

Não se vio agulha <strong>de</strong> marear mais acelerada, e certa em correr ao ponto<br />

do Norte, que a força invencível da pedra, em que está tocada, lhe faz bus-<br />

car, do que Soror Margarida foi diligente em continuar sem mudança este<br />

género <strong>de</strong> vida. Acontecia cubrir-se a terra <strong>de</strong> neve em gran<strong>de</strong> altura no<br />

inverno. Nada lhe tolhia o caminho ordinário para a Igreja. Rogava-lhe<br />

o Confessor, que ou se calçasse, ou não sahisse da cova, quando nevas-<br />

se: mas nem huma cousa, nem a outra se po<strong>de</strong> nunca acabar com eila.<br />

Como fará, dizia, mimo a seus pés, quem se acha em casa <strong>de</strong> hum pai,

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