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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 37<br />

e mortificação corporal, não se pô<strong>de</strong> crer, quão <strong>de</strong>pressa subio ao cume<br />

da maior perfeição. Não manda a regra cousa tão pesada, que por gran<strong>de</strong><br />

lhe fizesse espanto, nem tão leve, que por pequena a <strong>de</strong>sprezasse. Todas<br />

as essenciaes executava com pontualida<strong>de</strong>: e com a mesma cumpria as<br />

<strong>de</strong> menos importância. Dá licença a regra pêra hum <strong>de</strong>posito mo<strong>de</strong>rado,<br />

e com certos limites. Determinou-se a não pôr em balança os pesos<br />

d'esta permissão. Nunca teve nem hum só real <strong>de</strong> seu, e só por não<br />

querer nada do mundo, nem pedir nada a ninguém, tendo muita gente<br />

que haveria por dita acudir-lhe com muito. Na pobreza da cella imitava<br />

bem o seu Bautista: porque não só não havia nella cousa <strong>de</strong> aparato,<br />

mas, o que muito espanta, nem huma esteira teve nunca pêra se assen-<br />

tar. Todas suas alfaias se resolvião em hum pedaço <strong>de</strong> taboa, ou cortiça,<br />

que lhe servia <strong>de</strong> estrado, cama pobríssima, hum pequeno retabolo <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora pendurado; dous, ou três livros espirituaes sobre hum<br />

escabello: c <strong>de</strong> vestido só aquillo, que não podia escusar. Para com se-<br />

culares fazia conta, que não havia no mundo quem lhe soubesse o nome,<br />

nem chegava á gra<strong>de</strong>, nem escrevia para fora, senão rarissimamente.<br />

Na observância guardava tanta prontidão, que servindo hum oílicio, com<br />

que muito se cansava, por ser em todo encontrado com sua natureza,<br />

e sendo aconselhada, que advertisse á Prelada, porque logo a absolve-<br />

ria; respondia, que quereis que faça, que sou súbdita, e quanto mais re-<br />

pugnância acho em mim, tanto me sinto mais obrigada? Como se houvera<br />

gastado muitos annos em vaida<strong>de</strong>s no mundo, assim se aflligia com<br />

vários géneros <strong>de</strong> penitencia. Na oração empregava tanto tempo <strong>de</strong> dia,<br />

e <strong>de</strong> noite, que sempre andava falta <strong>de</strong> sono. A palavra <strong>de</strong> Deos, qualquer<br />

que fosse o pregador, ouvia com gran<strong>de</strong> gosto, e sempre ou em<br />

pó, ou <strong>de</strong> joelhos. Cousa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> edificação, ou fosse por se temer<br />

da força do sono, ou por se mortificar. Em fim <strong>de</strong> maneira procedia em<br />

tudo, que se não via ifella cousa, que não edificasse muito. E aconte-<br />

ceo, que entrou ifeste tempo para <strong>Fr</strong>eira huma Dona honrada, que fora<br />

casada, e vinha com gran<strong>de</strong>s propósitos <strong>de</strong> servir, e agradar a Deos. E<br />

perguntando a hum Padre muito espiritual Confessor do Mosteiro, por<br />

nome <strong>Fr</strong>ei Lopo <strong>de</strong> Santa Maria, que caminho levaria para alcançar este<br />

íim, foi-lhe respondido, que o mais breve, e mais acertado seria, tomar<br />

por espelho a Soror Maria <strong>de</strong> Jesus: se a imitasse, soubesse que tinha<br />

tudo feito.<br />

Seria cousa mui comprida proseguir com particularida<strong>de</strong> o extremo,

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