29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 477<br />

quasi todas as Communida<strong>de</strong>s, e por sua muita antiguida<strong>de</strong>, também se<br />

não acha nos registos, e memorias geraes do Reino: comtudo a posse<br />

immemorial he registo equivalente, e tão bastante, como se o ti verão<br />

vivo, e authorisado com sellos pen<strong>de</strong>ntes, e certidões da Torre do Tom-<br />

bo. E por tal lhes valeo em annos atraz contra alguns pretensores, que<br />

houve do cargo. O castello que hoje tem, não he mais antigo, que o rei-<br />

nado cTel-Rei Dom Fernando, único d*este nome, segundo parece <strong>de</strong><br />

liuma letra, que está sobre a porta, que inda que gastada do tempo,<br />

<strong>de</strong>clara bastantemente que foi elle o author, como sabemos que cer-<br />

cou <strong>de</strong> muros muitas terras <strong>de</strong> Portugal; e fortificou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />

com segunda cerca. A razão do nome recebemos <strong>de</strong> hum Ingrez muito<br />

antigo na ida<strong>de</strong>, Catholico, e <strong>de</strong> bom entendimento natural, que nos af-<br />

íirmou a ouvira, sendo moço, praticar em Inglaterra entre homens ve-<br />

lhos, curiosos <strong>de</strong> antigualhas, e doutos nellas.<br />

A este lugar tomou por assento o Provincial, para se <strong>de</strong>sviar da fú-<br />

ria da peste, que ardia em Lisboa, e para se não alongar dos filhos que<br />

rfella ficavão, offerecidos voluntariamente a todo o perigo, por acudirem<br />

aos próximos, como ao diante mais largamente contaremos. Pareceo-lhe<br />

o sitio acommodado para hum bom Convento <strong>de</strong> gente, que se quizesse<br />

retirar para a quietação do espirito, ou do estudo das letras, ou para<br />

tudo junto. E como havia annos, que trazia na imaginação fundar hum<br />

edifício tal, e para isso hia juntando cabedal <strong>de</strong> entre parentes, e ami-<br />

gos; tanto que se contentou do posto, não quiz dilatar a obra. Havidas<br />

as licenças necessárias, começou a enten<strong>de</strong>r com a pedra e cal, e junta-<br />

mente em comprar renda: a villa <strong>de</strong>u liberalmente toda a terra, que a<br />

casa occupa, que he gran<strong>de</strong>, com numa cerca que se esten<strong>de</strong> do alto<br />

até a praia, acompanhada <strong>de</strong> pomar, e vinhas. O edifício ficou muito<br />

recolhido, e mo<strong>de</strong>rado; e conforme a tenção com que se tratou. Ao que<br />

obrigou também a qualida<strong>de</strong> do sitio, que como he no mais alto do mon-<br />

te, e pendurado sobre o mar, fica como grimpa sugeito a todos os ventos<br />

que gran<strong>de</strong>mente o combatem. Porém paga-se este damno, com ser se-<br />

nhor <strong>de</strong> hum tão fermoso, e tão bem assombrado horizonte, que confia-<br />

damente, e sem parecer encarecimento, po<strong>de</strong>mos aífirmar, que não ha<br />

outro tal em toda a redon<strong>de</strong>za da terra: o que fica bem <strong>de</strong> crer, pois<br />

se sabe, que tem diante dos olhos por painel a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, esten-<br />

dida sobre a ribeira direita do Tejo, e que <strong>de</strong> nenhum outro ponto se<br />

pô<strong>de</strong> ver, e julgar sua gran<strong>de</strong>za toda junta, como d'este. Assim o enten-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!