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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL S03<br />

começou <strong>Fr</strong>ei Constâncio hum género <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> edificação, c con-<br />

solação para todos. Dizia sua Missa duas horas ante manhâa, acompanha-<br />

da nos Domingos, e dias santos <strong>de</strong> pregação, que fazia com tanto espi-<br />

rito, que muitos renegados compungidos doquelheouvião, seficavão na*<br />

Sejana para com elle tratarem do remédio <strong>de</strong> suas consciências. Depois<br />

<strong>de</strong> amanhecer caminhava para o Hospital dos pobres Chrislãos, curando,<br />

esforçando, e consolando a todos, sacramentandop rimeiro os que tinhão<br />

necessida<strong>de</strong>. Apcz isto buscava os cativos antigos, e sãos, conversava<br />

com elles: e a voltas <strong>de</strong> boa conversação tratava-lhes dos bens do Ceo,<br />

e das penas do Inferno. Dava -lhe Deos graça, com que tirou a muitos<br />

<strong>de</strong> peccados graves, e fez confessar a outros, que <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, e doze annos<br />

não sabião que cousa era confissão: mas não se <strong>de</strong>scuidava <strong>de</strong> si com<br />

o muito, que fazia pelos próximos; lembrado do que diz S. Paulo, que,<br />

convém ao Pregador Evangélico, para não cahir no que repreben<strong>de</strong> aos<br />

ouvintes. Era sua vida huma penitencia continua, jejuava oanno inteiro,<br />

e além dos jejuns <strong>de</strong> sua Or<strong>de</strong>m, ás quartas, e sextas feiras, e sabbados,<br />

passava sem mais, que pão, e agoa: sendo assim, que em nenhum<br />

tempo bebia vinho, como atraz dissemos.<br />

Com esta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vida continuou dous annos e meio, até entrar o<br />

<strong>de</strong> 1598 em que <strong>de</strong>u peste em Marrocos, com tanta fúria, que sendo<br />

costume entre os Mouros não usarem, <strong>de</strong> nenhum resguardo contra o<br />

mal, po<strong>de</strong> mais com o Xarife o medo <strong>de</strong>lia, que o preceito <strong>de</strong> sua lei,<br />

que he não fugir, nem <strong>de</strong>sviar do açoute do Ceo, em quanto dura. Sa-<br />

hio-se da cida<strong>de</strong> buscando ares livres, e salutiferos. E foi o conselho<br />

tão acertado, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> hido houve dia,, que levou â sepultura mais<br />

<strong>de</strong> quatro mil homens. E não falta quem afíirme, que das sinco partes<br />

d'aquelle gran<strong>de</strong> povo, não ficou mais que huma quando cessou a eon-<br />

tagião. Que farião em meio <strong>de</strong> tamanho incêndio os pobres cativos su-<br />

geitos a bárbaros, que nenhum remédio, nem <strong>de</strong>svio fazião <strong>de</strong>lle, e se<br />

<strong>de</strong>ixavâo morrer como brutos? Então mostrou Deos, que para seu re-<br />

médio lhes trouxera a!li <strong>Fr</strong>ei Constâncio: averiguou-se, que <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

quinhentos cativos, que nesta occasiáo perecerão, nenhum foi sem confissão,<br />

e a todos assistiu na ultima hora, e aos mais sacramentou com<br />

o santo Viatico, que comsigo o levava escondido, e dissimulado em huma<br />

boceta pequena. E aos mais <strong>de</strong>semparados acudia com remédios corpo-<br />

raes <strong>de</strong> botica, galinhas, e doces. Sobre tão bom serviço quiz o Senhor<br />

acerescentar-lhe os merecimentos, permitindo, que sentisse também o

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