29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 505<br />

panhado do Caddi. He Aquéme em Marrocos officio <strong>de</strong> justiça secular<br />

supremo, que respon<strong>de</strong> entre nós ao Regedor <strong>de</strong> Lisboa, mas com mui-<br />

to aventajada authorida<strong>de</strong>, e jurisdição. Porque sentencea verbalmente,<br />

até cortar pés, e máos, e arrastar, e matar: e tem por costume <strong>de</strong>spe-<br />

jar a prisão <strong>de</strong> cada visita, que faz. Tendo <strong>de</strong>spachado a mór parte dos<br />

presos, e parecendo-lhe, que não havia mais que fazer; foi-lhe dito, que<br />

ficava inda na prisão hum Christão, que el-Rei mandou a ella com rigor.<br />

Mandado apparecer, e perguntado por suas culpas, respon<strong>de</strong>o com li-<br />

berda<strong>de</strong> christãa, que não sabia outras; senão erão aconselhar a todo<br />

género <strong>de</strong> homens, o que para sua salvação lhes cumpria, o que fazia<br />

<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, visto como tudo o da vida era momento, e passava<br />

como sombra, e só se <strong>de</strong>via fazer conta dos bens d'alma, que grangeão<br />

o Reino do Geo, para que Deos criara todo o homem racional. Era o<br />

Aquéme velho na ida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> bom entendimento, e segundo se dizia, e<br />

alli o mostrou, não mal inclinado para os Christãos. Fallou com elle<br />

hum espaço <strong>de</strong>sassombradamente (que até dos inimigos se faz estimar a<br />

virtu<strong>de</strong>) e por fim lhe mandou aliviar o peso das ca<strong>de</strong>as pela meta<strong>de</strong>, e<br />

que fosse passado ao cárcere dos Ju<strong>de</strong>os, on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>ssem visitar, e con-<br />

solar os mais cativos. E não faltando quem o advertio, que estava alli pre-<br />

so por el-Rei, respon<strong>de</strong>o: que a ira do Senhor para com seu cativo, não<br />

era razão, que passasse <strong>de</strong> huma hora.<br />

Erão presentes alguns cativos. Levarão-no em hombros, e com tan-<br />

ta alegria, como se <strong>de</strong> morto resuscitara á vida. O aposento que lhe <strong>de</strong>-<br />

rão foi dadiva verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Ju<strong>de</strong>os. Melhor lhe po<strong>de</strong>mos chamar cova,<br />

que aposento: sete palmos <strong>de</strong> altura, e alguma cousa menos <strong>de</strong> compri-<br />

do, sinco <strong>de</strong> largo. Em tal estreiteza viveo o bom Padre quatro annos;<br />

e <strong>de</strong>z mezes, e alguns dias mais, até aos 24 d'Agosto <strong>de</strong> 1604. No qual<br />

dia faleceo o Xarife, elhe succe<strong>de</strong>o na Coroa Muley Bufferes seu filho: que<br />

como he lá costume, soltarem-se todos os presos no levantamento da<br />

novo Rei, mandou que fosse solto <strong>Fr</strong>ei Constâncio, e entregue aos Chris-<br />

tãos. Tornado á Sejana, começou a enten<strong>de</strong>r em suas occupaçóes primei-<br />

ras <strong>de</strong> Missa quotidiana, e sua pregação <strong>de</strong> tanto espirito, que bem se<br />

mostrava, lhe ren<strong>de</strong>ra o aperto da prisão novos, e altos interesses do<br />

Ceo. Mas estava tão extenuado <strong>de</strong> suas gravíssimas penitencias, que<br />

nunca <strong>de</strong>ixou no cárcere sobre o tormentos dos ferros, e do sitio, que<br />

tudo era intolerável, que não durou mais, que mez, e meio. Depois<br />

d* este género <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u-lhe hum prioriz, que logo conheceo po*

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!