29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 417<br />

pobre <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>ixou tudo por Deos, huma curta pitança, com que<br />

passar o dia. Riqueza, e copia <strong>de</strong> peças, he carga, he cuidado, he culpa;<br />

com teu perdão não hão <strong>de</strong> bir comigo. Aqui hão <strong>de</strong> ficar». Não ha cou-<br />

sa, que mais mal tomem os gran<strong>de</strong>s do mundo, que bum encontro do<br />

que tem por razão, ou por gosto. Ficou el-Rei <strong>de</strong>sabrido com <strong>Fr</strong>ei Belchior.<br />

E tanto que <strong>de</strong> sua presença sahio, lhe mandou significar por hum<br />

ministro, que, não havendo <strong>de</strong> aceitar o que lhe fazia mercê, podia es-<br />

cusar bir mais diante d*elle. Porque hum Rei <strong>de</strong> Sião, por muito que<br />

<strong>de</strong>sse, nunca ficava pobre. E elle em não abraçar com ambas as mãos,<br />

e pôr na cabeça, o que lhe dava quemllro podia dar, e dava com gosto,<br />

se mostrava mais hypocrita que virtuoso; mais presumptuoso, que cortez.<br />

Foi necessário ao <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> d'alli em diante trocar estilo, e condição, e aga-<br />

salhar quanto el-Rei lhe dava; e fingir gosto com o que não estimava.<br />

Acho escrito, que importarão as dadivas, que recebeo em pouco espaço<br />

<strong>de</strong> tempo, <strong>de</strong> seis para sete mil cruzados: afora muitas graças, que por<br />

seu meio fez a outra gente, principalmente Portuguezes. E até a fabrica<br />

da Igreja, que se havia <strong>de</strong> levantar, quiz que fosse á custa da Fazenda<br />

Real.<br />

fresta maneira foi o Senhor servido restaurar segunda vez Igreja, o<br />

pregação em Sião, quando parecia estar <strong>de</strong> todo acabada; que estes são<br />

seus po<strong>de</strong>res. Não duvido, que clamava por misericórdia para aquella<br />

terra o sangue, que primeiro a banhou do bom Padre <strong>Fr</strong>ei Jeronymo da<br />

Cruz, e dos que <strong>de</strong>pois o seguirão; como neutro tempo requeria vin-<br />

gança contra o <strong>de</strong> seu irmão o do santo Abel. Foi el-Rei continuando<br />

nas mostras <strong>de</strong> amor com <strong>Fr</strong>ei Relchior; e veio a esten<strong>de</strong>r sua liberalida<strong>de</strong>,<br />

que na verda<strong>de</strong> era gran<strong>de</strong>, a o <strong>de</strong>spachar para Malaca com hum<br />

fermoso junco, carregado <strong>de</strong> arroz, para provimento da cida<strong>de</strong>, e es-<br />

mola do Convento. O que nos constou por copia <strong>de</strong> huma carta, que<br />

veio á nossa mâo do mesmo Padre, escrita aos Religiosos <strong>de</strong> São Do-<br />

mingos <strong>de</strong> Malaca, andando para se embarcar. Na qual lhes dá conta, e<br />

novas <strong>de</strong> si, e da terra r e lhes faz a saber, como o Rei o tinha <strong>de</strong>spa-<br />

chado com o provimento que temos dito. Escusamos lançar aqui a carta<br />

por encurtar leitura: basta colhermos d'ella, que era feita em <strong>de</strong>zaseis<br />

<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1602. E que corria por três annos, que partira <strong>de</strong> Goa,<br />

e andava n aquellas peregrinações.<br />

Não he para esquecer para louvor <strong>de</strong>ste Rei, quo succe<strong>de</strong>ndo cahir<br />

em huma perigosa doença: e lomendo-se <strong>Fr</strong>ei Belchior, que haveria por<br />

VOL. IV Tl

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!