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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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504 LIVRO VI DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

tormento da peste: mas <strong>de</strong>o-lhe tanto animo, e zelo <strong>de</strong> acudir aos pró-<br />

ximos, que tomou as febres ar<strong>de</strong>ntíssimas em pé, e curou as postemas,<br />

que forão três, sem fazer cama; só por não faLar aos afíligidos, e pobres:<br />

cujo remédio, e saú<strong>de</strong> lhe dava mais cuidado que a própria. Durou a<br />

força do trabalho quatro mezes: e <strong>Fr</strong>ei Constâncio sempre constante, e<br />

com taes forças, que parecião do Ceo. O que era, e foi causa <strong>de</strong> mui-<br />

tos, e não cuidados bens dos cativos para então, e para o diante. Por-<br />

que os mercadores Christãos, e cativos nobres, e ricos admirados <strong>de</strong><br />

tanta charida<strong>de</strong>, acudião-lhe com largas esmolas para o emprego pre-<br />

sente, e os que falecião todos lhe <strong>de</strong>ixavâo o que possuião, para que o<br />

gastasse como lhe parecesse, sem nenhuma limitação. E como forão tantos<br />

os mortos, e elle só o her<strong>de</strong>iro, ou <strong>de</strong>positário, resultou em huma<br />

somma mais grossa do que se po<strong>de</strong> crer. Mas o bom Padre <strong>de</strong>u <strong>de</strong>lia<br />

tão boa conta, que brevemente a passou toda ao Ceo em favor dos <strong>de</strong>-<br />

funtos. Porque no tempo do aperto, e tribulação da peste repartia es-<br />

molas com hum extremo <strong>de</strong> liberalida<strong>de</strong> a todo género <strong>de</strong> necessitados<br />

sem respeito <strong>de</strong> ser Christão, Mouro, ou Ju<strong>de</strong>o o que lha pedia. De-<br />

pois <strong>de</strong> passado o mal, <strong>de</strong>u n'outro emprego <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> nos-<br />

so Senhor: resgatava moços, e moças, que estavão em perigo <strong>de</strong> rene-<br />

garem da Fé. E tal houve, que lhe custou <strong>de</strong> resgate seiscentos cruza-<br />

dos. A outros cativos ajudava com parte do em que estavão cortados,<br />

quando lhe constava, que não tinhão outro remédio <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. E averiguou-se,<br />

que forão doestes mais <strong>de</strong> trinta resgatados. E no mesmo<br />

tempo (como entre os Mouros pô<strong>de</strong> a cobiça mais, qne os preceitos <strong>de</strong><br />

sua seita) contratava com os que erão práticos nos caminhos, passarem-<br />

Ihe a terra <strong>de</strong> Christãos alguns renegados Andaluzes, que obrigados <strong>de</strong><br />

suas pregações tornavão sobre si, e <strong>de</strong>zejavão reconciliar-se com a Santa<br />

Igreja, e erão já tão públicos estes officios na terra, e o gosto com<br />

que os fazia, que chegou a fama a leval-os diante do Caddi, que em<br />

Berbéria lie como entre nós Justiça do espiritual, ou ecclesiastico: e este<br />

não tardou em dar conta a el-Rei, que mandou logo fosse buscado <strong>Fr</strong>ei<br />

Constâncio, e levado á prisão dos Mouros, com or<strong>de</strong>m, que nenhum<br />

Christão o visse, nem lhe consentissem ter papel, nem tinta; e sobre<br />

tudo o carregassem <strong>de</strong> ferros do peso <strong>de</strong> hum quintal. Foi dia <strong>de</strong> triun-<br />

fo para <strong>Fr</strong>ei Constâncio ver-se assim tratado; sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dor, e<br />

lastima para todos os Christãos, que julgarão não sahiria d'alli com vi-<br />

do,. Passados vinte dias, succe<strong>de</strong>o, que visitou a ca<strong>de</strong>ia oAquéme, acom-

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