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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL<br />

e servia com gosto, e com diligencia: e costumava a dizer, que para<br />

huma verda<strong>de</strong>ira Religiosa, nenhum oífício da Religião era baixo. Na ul-<br />

tima hora, vendo que acabava, e que era em Sabbado, pedio que lhe<br />

cantassem humas Antifonas <strong>de</strong> nossa Senhora. Disserão-lhe apoz ellas a<br />

oração: Conce<strong>de</strong> nos fâmulos tuos, etc. Estava tão <strong>de</strong>sassombrada em<br />

passo tão temeroso, e tanto em si com tão longa ida<strong>de</strong>, que advertia<br />

rezassem a oração das completas do Ofíicio pequeno; dizendo, que era<br />

mais conveniente para aquella hora, que he: Conce<strong>de</strong> Misericors Deus,<br />

ele. E na musica santa <strong>de</strong>sta oração acabou.<br />

Sahem-nos n este lugar três irmãas Conversas, irmãas nossas por<br />

religião, e entre si por nascimento: e verda<strong>de</strong>iramente irmãas na virtu-<br />

<strong>de</strong>, e boas qualida<strong>de</strong>s. A primeira, e mais velha, que chamavão Soror<br />

Margarida <strong>de</strong> São Miguel, era hum extremo <strong>de</strong> charida<strong>de</strong>, tão compassiva<br />

das doentes, e principalmente das que pa<strong>de</strong>cião dores, que não parecia<br />

nenos senão, que todas as alheas erão suas, e- que podia dizer com São<br />

Paulo: Quis tribulatur, et ego non uror? Assim as sentia, assim as cho-<br />

ava, assim lhes procurava consolação, e remédio. E o ser tal, foi causa<br />

e que fez o ofíicio <strong>de</strong> Enfermeira mais <strong>de</strong> trinta annos. Ficou em me-<br />

oria, que esmaltava esta charida<strong>de</strong> com hum dom, que mais parecia do<br />

Ceo, que natural. Fallando <strong>de</strong> Deos, ou com Deos, acudião-lhe palavras<br />

<strong>de</strong> huma brandura, e <strong>de</strong>vação maravilhosa, que como fogo abrasavão os<br />

corações. E o que mais he, que não sabendo totalmente ler, allegava<br />

sentenças da Escritura, e dos Santos, bem pronunciadas, e a propósito<br />

do que tratava. A quem tinha conhecimento <strong>de</strong> sua vida, não fazia isto<br />

admiração. Porque suas penitencias erão extraordinárias, a Oração per-<br />

petua, e <strong>de</strong> toda a hora, arrebatada sempre em amores do Ceo, e do<br />

Senhor d'elle. Suspirava <strong>de</strong> continuo no intimo das entranhas, e algumas<br />

vezes como arrebentando dizia: Quando veniam, et apparebo ante fatiem<br />

Dei%{) E se lhe perguntavão, que cousa a obrigava a tal efficacia, dobrava os<br />

gemidos, e respondia: Desi<strong>de</strong>riumhabens dissolvi, etessecumChristo(T).E<br />

acrescentava: E com a minha fiadora. Entendia a Sagrada Virgem Mãi,<br />

cm cuja mão tinha como <strong>de</strong>positado o remédio <strong>de</strong> sua salvação. Comeste<br />

acertado, e cortezão termo, quando adoeceo da doença, que a levou,<br />

fez-lhe festa, como outrem pu<strong>de</strong>ra fazer á saú<strong>de</strong>. Mas vendo, que não<br />

acabava tão <strong>de</strong>pressa, como <strong>de</strong>sejava, afíligia-se comsigo, e dizia: Quis<br />

me liberabit <strong>de</strong> corpore mortis hujus?(3) Foi o mal crescendo, começou a pa-<br />

(1) Psalra. II. (2) Ad Philip. 23. (3J Ad Roraan. 7.

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