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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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486 LIVRO VI DA IIISTOttIA DE S. DOMINGOS<br />

sente, e o receio dos que se esperavão acabando os breves dias, que já<br />

tinha <strong>de</strong> vida seu successor Dom Henrique, tinhão dado geralmente tal<br />

disposição nos ânimos, e complexões, que inficionando-se o ar <strong>de</strong> novo<br />

sobre os males, que particularmente afiligião todas as casas, e soltan-<br />

do-se em peste <strong>de</strong>scuberta, foi gravissimo o damno, que fez por todo o<br />

Reino. Em Lisboa houve muitas mortes, e por muitos lugares gran<strong>de</strong>s:<br />

especialmente ar<strong>de</strong>o a cida<strong>de</strong> d'Evora com tanta violência, que só no<br />

Convento <strong>de</strong> S. Domingos contámos nove Religiosos mortos. Entre os<br />

quaes foi o gravissimo Padre <strong>Fr</strong>ei <strong>Fr</strong>ancisco <strong>de</strong> Rovadilba, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

duas vezes Provincial, como em seu lugar <strong>de</strong>ixámos contado. D'este es-<br />

trago foi causa principal a valerosa resolução com que os Padres d^ste<br />

Convento se entregarão ao serviço da cida<strong>de</strong>. Entre os quaes o que mais<br />

se esmerou em servir, e trabalhar, e emfim pagou com a vida, foi o<br />

Padre <strong>Fr</strong>ei João da Mota. Afíirma-se, que fora contagião tão cruel, jun-<br />

tando-se o pouco resguardo, que então havia na cura, que em gran<strong>de</strong>s<br />

ruas inteiras não ficou cousa viva, nem havia cemitérios para receber os<br />

que morrião: emfim se diz, que passarão os mortos <strong>de</strong> vinte e sinco<br />

mil.<br />

Mas não era Deos servido, que cessassem as pragas, e castigos d'es-<br />

te Reino (sinal evi<strong>de</strong>nte, que também lhe não ha <strong>de</strong> faltar com miseri-<br />

córdias, e bonanças, como verda<strong>de</strong>iro pai que he), chegou outro anno<br />

oitavo sobre o <strong>de</strong> 1590. E como três vezes os d'este numero ferão in-<br />

felicíssimos para Portugal, e não menos para toda Espanha: o <strong>de</strong> 508,<br />

com a peste gran<strong>de</strong>, que n'elle teve principio, e a correo, e assolou to-<br />

da: o <strong>de</strong> 578 com a perda <strong>de</strong> Africa: o <strong>de</strong> 588 com o naufrágio d'Ar-<br />

mada, que foi contra Inglaterra, calamida<strong>de</strong> em reputação, e sustancia,<br />

quasi igual á Africana: assim entrou este <strong>de</strong> 1598 com nova, e impetuosa<br />

contagião. Mas foi pela misericórdia <strong>de</strong> Deos muito menos o damno<br />

em Lisboa, que o da primeira, inda que maior que o da segunda. E va-<br />

ieo muito a experiência, que se tinha do mal antigo, para haver or<strong>de</strong>m,<br />

e preservação. Porque tanto que se <strong>de</strong>clarou, foi primeiro conselho <strong>de</strong>-<br />

putar quinta gran<strong>de</strong>, e capaz sobre a ribeira d'Alcantara, sitio alto, e la-<br />

vado dos ventos, para Enfermaria dos feridos, com aposentos separados<br />

para a convalecencia <strong>de</strong> homens, e molheres. Acudirão Religiosos das Or-<br />

<strong>de</strong>ns dos Eremitas <strong>de</strong> Santo Aguslinho, e dos Menores, que com gran-<br />

<strong>de</strong> espirito, e <strong>de</strong>vação começarão a trabalhar logo. Dco-se-lhes hum Ci-<br />

dadão, que assistia <strong>de</strong> fora, para prover o que fosse necessário. E inda

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