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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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308 LIVRO IV DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

sitio, que elles apontassem, e sincoenta mil cruzados, para se <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>-<br />

rem em hum Convento, com mais mil e quinhentos pardáos <strong>de</strong> renda<br />

por anno (valem os pardáos trezentos réis cada hum) para sua susten-<br />

tação. Tratou-se logo <strong>de</strong> sitio. Virão-se muitos. Emfim contentarão-se os<br />

Padres do que hoje possue a Or<strong>de</strong>m, que he ao pé do oiteiro. em que<br />

está a casa, que por isso tem o nome <strong>de</strong> nossa Senhora do Monte. Fi-<br />

ca-lhe perto huma fonte, e a praça, que chamão do Mandovim. Dura<br />

huma tradição, do que succe<strong>de</strong>o n'esta eleição do sitio, que não he ra-<br />

zão ficar esquecida entre nossos successores. Porque pelo que nella se<br />

enxerga <strong>de</strong> mysterio, nos obriga muito a vivermos em toda a perfeição.<br />

Trazia o Vigário geral <strong>de</strong>senhada em papel a traça do Convento, com apon-<br />

tamento das braças, que se havião <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r em circuito. Ào pôr das<br />

balizas, que se fazia com assistência doVeador da fazenda, e <strong>de</strong> outros<br />

ofíiciaes d'el-Rei, e do Estado, dava-lhes <strong>de</strong>sgosto ser forçado haverem<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>salojar alguns gentios, que sentião <strong>de</strong>masiadamente <strong>de</strong>ixar as casas<br />

<strong>de</strong> pais, e avós, que ficavão <strong>de</strong>ntro dos limites da cor<strong>de</strong>ação. Conta-se,<br />

que á grita, e queixas d'estes mal dissimulados, como entre povo, sahio<br />

â rua hum gentio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, que todos ali tinhão por pai: e pon-<br />

do os olhos nos nossos <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s, que acompanhavão os Ofíiciaes, começou<br />

a torcer o rosto, e menear a cabeça com geito <strong>de</strong> quem em seu peito<br />

sentia cousa, que o admirava, e suspendia: e logo acenou aos queixo-<br />

sos, que se chegassem para elle, e ouvissem. E em breves palavras lhes<br />

disse, que fossem certos, que o que vião fazer, vinha or<strong>de</strong>nado por<br />

Deos. Porque elle se lembrava, que sendo moço, esahindohumamanhãa<br />

cedo ao beneficio dos palmares <strong>de</strong> seu pai, achara n'aquelle mesmo lu-<br />

gar dous Cacizes, que pelo trajo, e cores d'elles nenhuma differença ti-<br />

nhão dos que erão presentes ; e notara, que com longos cordéis o an-<br />

davão medindo, e cercando, como agora se fazia: o vestido estranho, a<br />

obra, e a novida<strong>de</strong> lhe puzerão espanto, e o espanto lhe esculpira tudo<br />

na memoria, para nunca lhe cahir d'ella, com quanto erão passados tan-<br />

tos arinos, que ainda não havia Portuguezes na índia. E emfim agora<br />

via a verda<strong>de</strong>, do que então fora como sombra, ou sonho. Por tanto,<br />

como sisudos se conformassem, com o que o Ceo <strong>de</strong> tantos annos a traz<br />

tinha assentado, sem fazerem duvida a mudar morada. Louvarão os <strong>Fr</strong>a-<br />

<strong>de</strong>s a nosso Senhor com os rostos banhados em <strong>de</strong>votas lagrimas <strong>de</strong><br />

alegria, colhendo do successo o muito, que lhe <strong>de</strong>víamos, por nos ter<br />

<strong>de</strong> tantos annos antes apontado, e sinalado o lugar, que haviamos <strong>de</strong>

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