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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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492 LIVRO VI DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

nhando a <strong>Fr</strong>ei Gaspar, era <strong>de</strong> ver, como vencia com fervor <strong>de</strong> charida<strong>de</strong><br />

a complexão natural, que era mui débil. E como trabalhava sobre as<br />

forças, durou-lhe a vida muito á comparação do que aturava, e sofria.<br />

Deu-lhe a contagiâo, consumio-o em hum momento: e a alma purificada<br />

no fogo d'ella, foi gozar dos prémios eternos. A <strong>Fr</strong>ei Gaspar guardou<br />

Deos para remédio dos pobres na doença, e dos <strong>de</strong>samparados na saú-<br />

<strong>de</strong>. Viveo até o cabo da peste n'este Collegío <strong>de</strong> amor do próximo, e<br />

pedra <strong>de</strong> fino toque das almas em que mora. Chegarão os feridos, que<br />

curou (que com este nome se <strong>de</strong>clara esta enfermida<strong>de</strong>, como dada com<br />

setas do Ceo) a numero <strong>de</strong> seis mil: e <strong>de</strong>stes escaparão com vida quasi<br />

os três mil. Os mortos, e os vivos confessavão <strong>de</strong>ver a <strong>Fr</strong>ei Gaspar, e<br />

a seus companheiros, huns o remédio das almas, outros o corporal. Para<br />

mais merecimento <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Gaspar, e da santa empresa, <strong>de</strong>ixou-lhe Deos<br />

a sua conta hum gran<strong>de</strong> bando <strong>de</strong> mininos, que não conhecião outro<br />

pai, nem mãi. Porque os naturaes lhes tinha levado a peste, e erão tão<br />

pequenos, que quasi todos estavão mais necessitados <strong>de</strong> quem lhes fizes-<br />

se oííicio <strong>de</strong> mãi, que não <strong>de</strong> pai. Mas elle fazia ambos, como bom filho<br />

<strong>de</strong> São Domingos. Erão cento e sincoenta. Teve-os a seu cargo, buscou<br />

esmolas, e su3tentou-os até os encaminhar on<strong>de</strong> tivessem criação no pre-<br />

sente, e remédio no futuro.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois dos annos em que vamos, porque não ficasse nenhuma<br />

parte d'estes reinos livre da gran<strong>de</strong> afílição da peste, com que Deos foi<br />

servido castigar-nos, chegarão a inficionar as terras do Algarve. Mostrou<br />

o Senhor, que erão tiros <strong>de</strong> sua ira, e verda<strong>de</strong>ira pena <strong>de</strong> peccados.<br />

Correo todos os lugares d'aquelle reino com gravíssimo damno. Aponta-<br />

remos só o que passou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Faro, que servirá para exemplo, e<br />

para escusarmos tratar das outras, e também para estimarmos, como soube<br />

acudir aos verda<strong>de</strong>iros remédios <strong>de</strong> todo o mal, que são os do Ceo. An-<br />

dava a contagiâo sem freio, não havia casa livre. Poz o Senhor miseri-<br />

cordioso no coração <strong>de</strong> hum bom vizinho, que procurassem valer-se dos<br />

Santos, e lançando sortes, aquelle tomassem por patrão, e valedor, que<br />

jfellas lhe <strong>de</strong>sse o mesmo Deos; sem cuja licença nem as folhas das arvores<br />

fazem movimento. Agradou em geral a proposta, reparte-se em<br />

pequenos escritos huma gran<strong>de</strong> ladainha dos Santos, cresce o fervor, o<br />

a <strong>de</strong>vação apertada da necessida<strong>de</strong>. Sabe por remediador, e advogada Q<br />

gran<strong>de</strong> Thomás <strong>de</strong> Aquino, Doutor da Igreja, e filho <strong>de</strong> São Domingos.<br />

Parece, que foi espirito do Ceo o que a todos toou. Tão contente ficou

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