29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

412 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

a nossa Congregação, e forão recebidos por Prauncar com todo o gosto,<br />

e bom gasalhado, que suas cartas prometião, segundo temos contado.<br />

Salvou-] hes Deos as vidas <strong>de</strong> que não fazião conta. Mas forão levados ca-<br />

tivos para Sião com todos os mais Portuguezes. E tal foi o caminho <strong>de</strong><br />

misérias, e fomes, e todo outro máo tratamento, que forão experimen-<br />

tando bem quanto menos doe huma morte abreviada <strong>de</strong> alfange cortador,<br />

que a vagarosa <strong>de</strong> duro cativeiro. Mas como o mesmo trabalho he in-<br />

ventor <strong>de</strong> traças, foi imaginando o Padre <strong>Fr</strong>ei Jorge, que po<strong>de</strong>ria succe-<br />

<strong>de</strong>r achar em hum tyrano vitorioso, e farto <strong>de</strong> impérios alguma pieda-<br />

<strong>de</strong>, se chegasse a fallar-lhe. Communicou-se com os companheiros. Tra-<br />

tarão <strong>de</strong> o armar com hum presente a uso da terra, que não sofre aparecer<br />

ninguém diante dos gran<strong>de</strong>s com as mãos vazias: valerão-se a bom<br />

pagar <strong>de</strong> alguns Portuguezes, que já conhecião na terra. <strong>Fr</strong>ei Jorge tinha<br />

boa lingoagem, e ajudava-o huma presença autorisada com gravida<strong>de</strong>, e<br />

modéstia. Abrio-lhe as portas a offerta, e <strong>de</strong>u- lhe Deos graça com o<br />

tyrano, para que tivessem fim os trabalhos presentes. Fallou palavras li-<br />

vres, <strong>de</strong> quem temia pouco a morte: mas a mesma liberda<strong>de</strong> agradou<br />

ao tyrano. «Soberano Senhor, disse, se és pru<strong>de</strong>nte, quanto venturoso,<br />

<strong>de</strong>ves estimar, que hum escravo teu te falle as verda<strong>de</strong>s, que os teus<br />

Príncipes, e gran<strong>de</strong>s se não atrevem a dizer-te: porque são cativos <strong>de</strong><br />

animo, se o não são <strong>de</strong> ferro, como eu. Fez-te Deos senhor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s ter-<br />

ras, poz em tuas mãos os thesouros dos que os possuião: e elles mor-<br />

tos, <strong>de</strong>struídos, e acabados; tu só vivo, rico, são, e po<strong>de</strong>roso: e vivirás<br />

mil annos prosperamente. Venho a visitar-te, que caias na conta, e se-<br />

jas agra<strong>de</strong>cido a quem tudo governa lá d'esse alto Geo. Sou teu escravo<br />

na sorte, mas filho no amor: escravo no estado, mas livre no entendi-<br />

mento. E como tal te digo, que não só és pouco agra<strong>de</strong>cido aos infinitos<br />

benefícios, que com larga mão te tem esse Senhor communicado, mas<br />

chãamente ingrato. Perdoa-me a palavra. E a prova he só huma, e bem<br />

achada: que he trazeres presos seus Sacerdotes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Àngor, e<br />

andarem muito tempo ha n'esta terra, e á tua vista humilhados, famin-<br />

tos, e maltratados. Se o sabes, he tua culpa, se o ignoras, <strong>de</strong> teus mi-<br />

nistros. Mas seja <strong>de</strong> quem quer que for, sabete, que em remedial-a<br />

consiste crescerem tuas boas venturas, ou <strong>de</strong>sandar a roda d'ellas: que<br />

Deos não dorme.» Mostrou el-Rei tanta satisfação do bom termo com que<br />

o <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> se <strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>r, que ficou fallando com elle <strong>de</strong>sassombrada-<br />

mente. E sabendo que era Sacerdote, e hum dos que lhe apontara, mandou

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!