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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 415<br />

ministros particulares. Foi necessário aos da fragata, menearem bem as<br />

mãos, e fazerem o mesmo até os <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s, para se acabarem <strong>de</strong> safar do<br />

perigo. Porque a gente d'armada, como sabia, que se os não levava e<br />

el-Rei, bavião <strong>de</strong> ter por paga as cal<strong>de</strong>iras, azeite e fogo, querião mais<br />

morrer pelejando, que tornar com a vida. Assim se diz, que ficarão mor-<br />

tos tamanho numero, que passa do que se pô<strong>de</strong> crer. E se soube <strong>de</strong>-<br />

pois, que chegados a terra os que não tivcrão lugar <strong>de</strong> morrer, forão<br />

todos presos, e gozou o bárbaro muitos dias do passatempo <strong>de</strong> os ver<br />

frigir. Este mesmo medo foi o que espertou aos nossos, para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-<br />

rem. E se bem escaparão, foi á custa <strong>de</strong> muitos mortos, e todos feridos.<br />

E com tudo não faltarão logo do mesmo habito outros aventureiros, que<br />

o bom espirito <strong>de</strong>sprezador <strong>de</strong> mortes, e perigos levou ao mesmo porto,<br />

e posto. Dos quaes diremos alguma cousa para conclusão do que nos<br />

resta d'esta missão.<br />

Poucos dias <strong>de</strong>pois da venturosa fugida <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Jorge, aportou na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Martavão o Padre <strong>Fr</strong>ei Belchior da Luz, <strong>de</strong>spachado do novo<br />

Convento <strong>de</strong> São Domingos <strong>de</strong> Bengala, <strong>de</strong> que ao diante diremos, para<br />

as terras <strong>de</strong> Arracão, a petição do Bei d'eilas. Tanto que o Governador<br />

<strong>de</strong> Martavão teve noticia <strong>de</strong> ser entrado no porto <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> do habito, e co-<br />

res <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Jorge; como estava informado do modo com que se auzen-<br />

tara, e do <strong>de</strong>sgosto que el-Bei com isso recebera, <strong>de</strong>terminou colhel-o<br />

com manha, e mandal-o á Corte, para que, se quizesse, <strong>de</strong>safogasse n'elle<br />

sua paixão. Mandou-lhe dizer, que tinha recado d'el-Rei, que folgaria <strong>de</strong><br />

faltar com clle, que <strong>de</strong>via dar-lhe aquelle gosto, pois o podia fazer sem<br />

per<strong>de</strong>r viagem, se lhe não <strong>de</strong>sse pena a <strong>de</strong>tença <strong>de</strong> hum caminho bem<br />

assombrado, e breve. Não se fez <strong>de</strong> rogar o <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>; porque estava igno-<br />

rante do que era passado com <strong>Fr</strong>ei Jorge. Antes fazendo discurso, que<br />

porventura se lhe abriria alli porta para maior sementeira, que a que<br />

vinha buscando, poz-se <strong>de</strong>sassombradamente ao caminho da terra, com<br />

os olhos em Deos, por cujo serviço começara v do mar. Ficou-se finando<br />

<strong>de</strong> riso o Gentio da innocencia do Religioso: e porventura fazendo conta,<br />

que lhe valeria mercês a falsa fé, com que o enviava. Mas bem se diz,<br />

que os corações dos Beis estão na mão <strong>de</strong> Deos. No ponto, que el-Rei<br />

vio a <strong>Fr</strong>ei Belchior, per<strong>de</strong>o toda a raiva que tinha contra <strong>Fr</strong>ei Jorge; porque<br />

ainda que o sembrante retinha algum rasto d'ella, foi só n'este primeira<br />

ponto, c encontro. Consi<strong>de</strong>rava a singeleza, com que o pobre <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> acu-<br />

dira a menos, que hum aceno seu. Que ainda foi menos que aceno, o

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