29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL<br />

Por remate: Eu meu íillio, disse, no pouco, que me recolhi antes <strong>de</strong><br />

Matinas, vi em sonhos hum milhano negro, e feio, que <strong>de</strong>scia sobre<br />

<strong>de</strong>zaseis franga inhos, que me ro<strong>de</strong>avão, e empolgava hum. Acudia<br />

eu, tirava-lho das garras, porém ferido, e maltratado. O milhano he<br />

o Demónio inimigo do género humano, e tanto maior <strong>de</strong> cada hum,<br />

quanto mais entrada ihe dá em sua alma : o ferido <strong>de</strong> suas unhas<br />

sois vós, meu filho, e por aqui vereis, como trata a quem se lhe ren-<br />

<strong>de</strong>. Ora para que vos não arrebate facilmente, que segundo parece,<br />

por vos achar mais leve se atreveo comvosco, he necessário que vos<br />

aju<strong>de</strong>mos com algum peso, que será od*esta disciplina. E logo lha <strong>de</strong>u<br />

tão cruel, e sem pieda<strong>de</strong>, que fez pasmar os Irmãos, por cousa nova, e<br />

extraordinária no Mestre. Foi cura <strong>de</strong> Medico sábio, cura apropriada á<br />

doença: mostrou-se nos eíTeitos. Recolhidos os irmãos, ficou o peniten-<br />

te só <strong>de</strong>bruçado em terra, regando-a com lagrimas <strong>de</strong> tal aífecto, e com-<br />

punção, que as não enxugou, nem se levantou até o segundo <strong>de</strong> Prima:<br />

e aífirmava <strong>de</strong>pois, que nunca <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entrara na Or<strong>de</strong>m, sentira em<br />

si tamanha consolação, nem folgara tanto <strong>de</strong> ser <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>, como <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> recebidos os duros açoutes, que não forão castigo, senão mezinha,<br />

e remédio santo para sua alma. Porque a verda<strong>de</strong> era, que não só an-<br />

dava tentado, mas na mesma hora tinha assentado comsigo, tanto que<br />

o Mestre se recolhesse na cella, pedir-lhe seus vestidos, e hir-se. Foi<br />

penhor d'esta confissão perseverar honradamente no habito, professar a<br />

seu tempo, viver, e morrer n'elle consolado.<br />

Deste, e d'outros successos nasceo, que quando succedia fallar^se<br />

neste <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>, quem o queria nomear para fazer differença <strong>de</strong> outro do<br />

mesmo nome, que na Congregação residia, e vindo <strong>de</strong>pois para a Pro-<br />

víncia faleceo no mar, chamava-lhe o Santo. E vio-se que não era adu-<br />

lação, nem pensamento pouco fundado; porque em hum acci<strong>de</strong>nte, que<br />

teve <strong>de</strong> hum mal, que na índia chamão mor<strong>de</strong>xim, dando-o os <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s<br />

por morto, lhe fizerão em retalhos os hábitos, e todas as mais peças <strong>de</strong><br />

seu uso. e por reliquias as repartirão entre si. Mas estava-lhe guardado<br />

mais glorioso íim, á mão <strong>de</strong> Mouros, c em ódio da fé, e serviço da<br />

Ohristanda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Solor, como veremos adiante(l). Não acabou do acci<strong>de</strong>nte.<br />

Conta-se <strong>de</strong>lle, que sendo lhe dada a Vigairaria <strong>de</strong> S. Miguel da ilha <strong>de</strong><br />

Goa, para convalecença <strong>de</strong> numa comprida doença, nunca <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> se<br />

levantar á meia noite a resar suas Matinas diante do Santíssimo Sacn

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!