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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 239<br />

itado ; pareceo-lhe tempo <strong>de</strong> se entregar, e pôr tudo em mão do Bispo,<br />

como seu verda<strong>de</strong>iro Superior, e Prelado. Era-o n'este tempo Dom Jorge<br />

<strong>de</strong> Mello, presidindo já na Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> S. Pedro o Papa Clemente VII,<br />

e começando a reinar em Portugal el-Rei Dom João o III pelos annos<br />

<strong>de</strong> 1522. Pedia-lhe Brites <strong>de</strong> S. Paulo, que assim se chamava a Prioresa,<br />

fosse servido <strong>de</strong> acudir, a receber a obediência <strong>de</strong> hum Mosteiro resus-<br />

citado por ella, mas súbdito d'elle Bispo, que como verda<strong>de</strong>iro Pastor<br />

estava obrigado a visital-o, e encaminhal-o no< espiritual; e quanto ao<br />

temporal dar-lhe po<strong>de</strong>r, e fazer-lhe costas, para tirar da mão <strong>de</strong> injus-<br />

tos possuidores muitas peças <strong>de</strong> fazenda manifestamente alheadas do<br />

Mosteiro. Vicio he muito antigo, e que acompanha muita gente, que no<br />

mundo tem qualquer po<strong>de</strong>r, por fraco, e limitado que seja, não se pa-<br />

gar <strong>de</strong> conselhos, que sahem <strong>de</strong> cabeça, e juizo alheio, por bons, e acer-<br />

tados que sejão. Desconfiança he <strong>de</strong> animo, e fraqueza <strong>de</strong> entendimento.<br />

Yio o Bispo feito tudo o' que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>zejar, e perten<strong>de</strong>r, e que muito<br />

<strong>de</strong>vera estimar. Assim o sentio por não ser a traça sua, como se fora<br />

obra muito <strong>de</strong>sencaminhada, e contra o serviço <strong>de</strong> Deos. E não somente<br />

se <strong>de</strong>scontentou <strong>de</strong>lia ; mas no mesmo tempo, que a Prioresa lhe oííe-<br />

recia obediência, e sugeição a seus mandados, <strong>de</strong>spachou quem a notifi-<br />

casse, que pessoalmente apparecesse diante d^elle a dar razão do que<br />

sem or<strong>de</strong>m sua tinha feito. E continuou em a inquietar, e avexar por<br />

tantas vias, que não lhe valendo hum raro exemplo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, com que<br />

procedia, e governava a casa, nem o favor dos Principes do Reino, que<br />

muito a honravão, tornou-se a valer <strong>de</strong> sua habilida<strong>de</strong>, e com o mesmo<br />

segredo e diligencia, com que negoceara em Roma, impetrou do Nún-<br />

cio Apostólico, que n'este Reino residia, que era Dom Martinho <strong>de</strong> Por-<br />

tugal, Bispo do Funchal, izentar-se <strong>de</strong> sua jurisdição, e dar obediência<br />

ao Arcebispo <strong>de</strong> Lisboa. Assim se achou o Bispo, quando menos o cui-<br />

dava, inhibido para a perseguir, e privado <strong>de</strong> toda a jurisdição do iMos-<br />

teiro. Porque em dia <strong>de</strong> todos os Santos do anno <strong>de</strong> 1529 fez a Prio-<br />

resa solemne acto <strong>de</strong> obediência ao Arcebispo por virtu<strong>de</strong> das letras,<br />

que lhe passou o Núncio, nas quaes^se dá por razão <strong>de</strong> tal novida<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>scuido, com que o Bispo se havia no governo do Mosteiro, sendo obri-<br />

gação sua assistir-lhe, emparal-o, e favorecel-o. Por este modo tiverão<br />

fim as moléstias, que a Prioresa recebia, e o Arcebispo ficou correndo<br />

com a casa em todo. o espiritual, e temporal ; e em seu nome fizerão

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