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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO RRINO DK PORTUGAL 427<br />

nos consta se ora o mesmo, do quem falíamos em Solor, se outro do<br />

mesmo nome. ília no cabo o mez <strong>de</strong> Setembro doanno<strong>de</strong> 1002: flcffcr-<br />

minou pregar na festa <strong>de</strong> São Miguel. Acudirão todos ao pregador no-<br />

vo. E ellc, como quem sabia com quem o havia, e vio a occasião, que<br />

lhe dava o Evangelho da festa nas palavras do Senhor : Nisi elficiamini<br />

sicut parvuli, non itilralntis in lierjnum Cfelorum. Querem dizer: Se por<br />

obra não tornar<strong>de</strong>s ao estado <strong>de</strong> mininos pequenos, não entrareis no reino<br />

dos Ceos. Levantou os conceitos, esforçou o estilo, e lingoagem, encare-<br />

cendo esta divina sentença com tanto espirito, que fez efíeitos <strong>de</strong> fogo<br />

em todo o auditório, abrazando os corações em amor <strong>de</strong> Deos, e em<br />

dor, e compunção <strong>de</strong> peccados, que os peitos testemunha vão com gemi-<br />

dos, e soluços, e os olhos com lagrimas. Cousa tão nova para aquella<br />

lerra, que os mesmos Portuguezes se espanta vão <strong>de</strong> si. E os naturaes<br />

costumados a não ver, nem ouvir entre elles, senão brigas, roncas, e<br />

ferocida<strong>de</strong>s, estavão encantados com aquelles penhores <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>,<br />

e brandura. Mas tudo se houve por pouco, quando, acabado o sermão,<br />

virão lançado aos pés do pregador hum dos ouvintes, que o fora só por<br />

companhia, ou curiosida<strong>de</strong>. Porque era tal no estrago da vida, e cons-<br />

ciência, que, perdida a vergonha a Deos, e ao mundo, se sabia publica-<br />

mente, que havia doze annos que se não confessava. Ficou o pregador<br />

sobresaltado; porque tinha noticia <strong>de</strong> seu máo estado. E o penitente co-<br />

nhecendo, que não era crido, nem o merecia ser, valia-se com nova submis-<br />

são das Chagas do bom Jesu, pedindo-lhe por ellas o quizesse ouvir <strong>de</strong><br />

confissão, e remediar, e curar hum peccador, que em nenhuma parte <strong>de</strong><br />

sua alma sentia cousa sãa. Levantou-o nos braços» o pregador, imitando<br />

o bom pai do Pródigo, animou-o, consolou-o. Assentarão hora para a<br />

confissão. E foi ella tal, e taes os efíeitos, que a seguirão, que se <strong>de</strong>ixou<br />

bem enten<strong>de</strong>r a olhos <strong>de</strong> toda a terra, que fora obra do Espirito Santo.<br />

Porque trocou o trato, emendou a vida, continuou os sacramentos. E<br />

como todo homem costuma amar o lugar, on<strong>de</strong> alcançou alguma boa<br />

ventura, ficou com affeição, e <strong>de</strong>vação perpetua ao habito <strong>de</strong> São Do-<br />

mingos.<br />

Declarou o mesmo pregador por fim do sermão, que no Domingo<br />

seguinte, que era o primeiro <strong>de</strong> Outubro, <strong>de</strong>terminavão os Padres fazer<br />

a festa, e procissão <strong>de</strong> nossa Senhora do Rosário, que n aquelle lugar<br />

<strong>de</strong> Dianga se não fizera nunca. Apontou algumas das mercês, e graças,<br />

com que a Senhora enriquecia seus <strong>de</strong>votos: e as gran<strong>de</strong>s indulgências,

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