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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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318 LIVRO IV DA HISTORIA DF, S. DOMINGOS<br />

CAPITULO VIII<br />

De alguns filhos doeste Convento <strong>de</strong> São Domingos <strong>de</strong> Goa,<br />

dignos <strong>de</strong> memoria.<br />

Hum dos primeiros noviços, que ívesta casa <strong>de</strong> Goa vestirão o santo<br />

habito, foi <strong>Fr</strong>ei Cliristovão do Espirito Santo. Era moço muito hábil, e<br />

bem pratico nas lingoas do gentio da terra, e dos Mouros. Como acabou<br />

seu estudo, e foi or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> Missa, com ida<strong>de</strong> para doutrinar, e con-<br />

fessar, <strong>de</strong>u-se-lhe licença para confessar geralmente nas quatro Vigairarias.<br />

Porém juntava com a habilida<strong>de</strong> natural vida inculpável, muita modéstia,<br />

e gran<strong>de</strong> zelo da honra <strong>de</strong> Deos. Com estas partes chegou a <strong>de</strong>scubrir,<br />

que permanecião todavia entre os bautisados secretas relíquias <strong>de</strong> cos-<br />

tumes gentílicos. Fez diligencia contra os culpados, pren<strong>de</strong>o, e castigou<br />

alguns. Encherão-se <strong>de</strong> raiva todos, atiçou a paixão o pai da malda<strong>de</strong><br />

Lúcifer. Conjurão-se em matar o bom pastor a ferro. Mas temendo ser<br />

sentidos, e haver <strong>de</strong> pagar a traição com as cabeças, mudarão <strong>de</strong> con-<br />

selho, e usarão <strong>de</strong> meio mais seguro, e mais secreto; que foi, darem-lhe<br />

peçonha tão disfarçada (como toda a índia he cheia <strong>de</strong> mestres <strong>de</strong>lia)<br />

que o innocente Religioso não enten<strong>de</strong>o, senão <strong>de</strong>pois que os eífeitos, e<br />

acci<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>scobrirão; que forão públicos, sahindo-lhe por todos os<br />

membros evi<strong>de</strong>ntes sinaes do toxico, bastante para vencer, e <strong>de</strong>rribar<br />

qualquer natureza, que não fora ou tão robusta, como a sua, ou tão <strong>de</strong>-<br />

fendida <strong>de</strong> quem tudo governa com soberana provi<strong>de</strong>ncia, que he Deos.<br />

Sincoenta annos tinha dado ao mundo Simão Botelho d'Andra<strong>de</strong>,<br />

tendo servido três annos <strong>de</strong> Capitão <strong>de</strong> Malaca, e doze <strong>de</strong> Veador da Fa-<br />

zenda da índia, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong> valente soldado, quando lhe abrio<br />

Deòs os olhos, para entrar em contas comsigo. E pesando com bom juízo<br />

as cousas do mundo, vio que era sonho a vida, sombra os gostos, vidro<br />

a saú<strong>de</strong>, doença, e miséria por si a velhice, em que estava entrado, que<br />

tinha a morte á porta, e a salvação arriscada : <strong>de</strong>terminou-se animosa-<br />

mente em <strong>de</strong>ixar tudo, e tratar só <strong>de</strong> seguir a vida, e bens d'alma. Vai-<br />

se hum dia ao Vigário geral <strong>Fr</strong>ei Diogo Bermu<strong>de</strong>s, pe<strong>de</strong>-lhe por mise-<br />

ricórdia huma mortalha do habito <strong>de</strong> São Domingos. Lançou-llra elle<br />

com gran<strong>de</strong> alegria <strong>de</strong> toda a Communida<strong>de</strong> : rccebeu-a o noviço com<br />

igual consolação <strong>de</strong> sua alma, e espanto <strong>de</strong> toda a gente secular da ín-<br />

dia, que pasmava <strong>de</strong> ver, que quando era tempo <strong>de</strong> lograr as riquezas,<br />

que ja possuía, e gostos, que podia ter certos, então se enterrava por

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