29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PAP.TICULAIl DO REINO DF. PORTUGAL 393<br />

que o lyrano tinha dado, e doado por amor d'elle, empréstimos, e mer-<br />

cês, que tinha feito a Poríugnezes, e a outras nações. Hum junco (he<br />

penem <strong>de</strong> navio <strong>de</strong> alto bordo) que emprestara por seu rogo a certo<br />

Portuguez, c se per<strong>de</strong>ra. E por não ficar nada por lhe lançar em rosto,<br />

e pôr em rol, ajuntava a encommenda antiquíssima dos escravos, que<br />

mandara a Malaca, por quem tanto pa<strong>de</strong>cera <strong>Fr</strong>ei Lopo Cardoso: E con-<br />

cluía, que pagando-lhe tudo (porque tudo el-Rei fizera por contemplação<br />

<strong>de</strong>lle <strong>Fr</strong>ei Silvestre, sem outro respeito, nem conhecimento <strong>de</strong> partes)<br />

então se po<strong>de</strong>ria hir. Assombrado o pobre <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> com resposta tão fora<br />

<strong>de</strong> caminho, segundo isso, disse, não quer el-Rei, que me eu vá. Porque<br />

elàe sabe mui bem, que fora (leste habito, e Breviário, nenhuma cousa<br />

outra possuo <strong>de</strong>baixo do Sol. Assim passa, replicou o Gentio, e bem he<br />

razão, que saibas estimar, fazer tanto caso <strong>de</strong> ti, sendo tu bum pobre<br />

estrangeiro do cabo do mundo. Que se te pe<strong>de</strong> estas cousas, não he<br />

por necessida<strong>de</strong>, nem cobiça (Fellas; que antes está prompto, para te<br />

fazer maiores mercês: senão pela graça, que tua ventura diante d'elle<br />

achou. Reconhecia <strong>Fr</strong>ei Silvestre o amor d'el-Uei, como agra<strong>de</strong>cido que<br />

era: mas quizera antes, que fora verda<strong>de</strong>iro ódio, para que o lançara <strong>de</strong><br />

si, ou o <strong>de</strong>ixara hir. Ficou-se, porque não era Senhor <strong>de</strong> si.<br />

IVesle dia em diante se <strong>de</strong>terminou <strong>Fr</strong>ei Silvestre a hum novo género<br />

<strong>de</strong> vida; vida <strong>de</strong> homem malencolizado, e <strong>de</strong>scontente. Encerrou-se em<br />

buma casa com portas fechadas, com porteiro, e campainha, e estava em<br />

meio da cida<strong>de</strong>, como se vivera no <strong>de</strong>serto com gran<strong>de</strong> admiração, e<br />

louvores dos gentios. O que ainda fora mais tolerável, se tivera compa-<br />

nhia <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s. Mas fora segunda <strong>de</strong>sgraça, que como era publico na<br />

Congregação, que Comboya não admittia o Evangelho, e sabião d'elle,<br />

que nadava em prosperida<strong>de</strong>s, ateimarão, julgando mal do homem, em<br />

lhe não darem companheiro, que com gran<strong>de</strong>s eíFicaeias requeria : e<br />

chegou a passar sineo annos inteiros, sem ter quem o confessasse. E<br />

mais passara, senão acontecera aportar na terra hum junco da China, e<br />

iVelle hum Sacerdote secular, que festejou, como se fora Anjo mandado<br />

do Ceo: e com muitos rogos acabou com clle, que se ficasse em sua<br />

companhia. E porque a diíTerença do trajo não fosse estranha no povo,<br />

vestio-lhe hum habito <strong>de</strong> São Domingos. Como teve tal companheiro,<br />

que lhe foi do gran<strong>de</strong> alivio espiritual, e temporal, ajuntou á clausura<br />

outra circunstancia <strong>de</strong> casa religiosa, que foi levantar-se á meia noite,<br />

e prece<strong>de</strong>ndo primeiro, e segundo sinal <strong>de</strong> sino, rezar na Igreja suas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!