29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

38 LIVRO I DA HISTORIA Dl: S. DCAlIXCOS<br />

com qno se esmerava em todas as virtu<strong>de</strong>s. Mas não se pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

dizer alguma cousa dos cffeitos, que em sua alma obrava a charida<strong>de</strong><br />

dos próximos, tratando-se em tudo com gran<strong>de</strong> rigor. Parecia-lfie que<br />

todas as outras Religiosas erão faltas <strong>de</strong> forças, ella só valente: todas<br />

santas, ella só peccadora. E andava sempre vigiando sobre as que via<br />

fazer gran<strong>de</strong>s abstinências, ou que velavão, ou trabalhavão <strong>de</strong>masiado,<br />

para as fazer mo<strong>de</strong>rar. Advertia-as <strong>de</strong> palavra, c senão bastava, reque-<br />

ria á Prelada que as obrigasse com obediência: Por outra parte (tão cn-<br />

genbosa lie a verda<strong>de</strong>ira charida<strong>de</strong>) se via alguma <strong>de</strong>scuidada em sua<br />

obrigação, por frouxidão, ou mimo, ou presunção, não duvidava estia-<br />

nhar-lh'o com exhortaçôes santas, e livres. Na <strong>de</strong>voção do Santíssimo<br />

Sacramento adiantou gran<strong>de</strong>mente, <strong>de</strong>spois que se vio Religiosa. Crcs-<br />

ceo o aílecto com a obrigação. E com a continuação <strong>de</strong> o receber, o <strong>de</strong>-<br />

sejo <strong>de</strong> não carecer nunca do santo pasto. Cumpria-se bem nella, o que<br />

está escrito: Qui edunt me, adhuc esurient, quibibunt me, adhuc silient (1).<br />

O fim <strong>de</strong> o receber huma vez, era principio <strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejar <strong>de</strong> novo, c an-<br />

dar abrazada em huma santa hydropesia, em que não havia dar termo.<br />

Assim era seu continuo requerimento com as Preladas, licenças largas,<br />

para que se amiudasse muito n'esta casa: E a frequência, que hoje dura<br />

teve origem em suas instancias.<br />

Faltava para coroar estas virtu<strong>de</strong>s algum género <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> tribula-<br />

ção, que he a fragoa em que o Senhor costuma purificar, c aperfeiçoar<br />

gran<strong>de</strong>s espíritos, e aquelles <strong>de</strong> quem mais fia, conforme ao que está<br />

escrito. Virtus in infirmitate perficitur. (2) Para quem estava no canto<br />

<strong>de</strong> hum Mosteiro, não podia haver nenhuma mais pesada, que <strong>de</strong> huma<br />

doença. Esta lhe mandou Deos tal, que logo mostrou proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sua<br />

mão. Porque nenhuma filosofia <strong>de</strong> médicos soube nunca atinar com a<br />

razão d'ella, nem com a cura. Erão dores intensas, e continuas por todos<br />

os membros, e <strong>de</strong> tal qualida<strong>de</strong>, que se aggravavão, e crescião com<br />

os remédios: e acabo <strong>de</strong> dous mezes a puzerão em estado, que ficou na<br />

cama como hum tronco, sem ser senhora <strong>de</strong> se virar, nem menear para<br />

nenhuma parte. Fácil he <strong>de</strong> crer, quão penosa seria tal vida. Tal era,<br />

que a todos fazia lastima. Mas só ella não tinha nenhuma <strong>de</strong> si. Antes<br />

eslava tão quieta, e tão conforme com Deos, que na maior força das<br />

dores se lhe enxergava não <strong>de</strong>sejar termo ifellas : antes estar prompta,<br />

para soíírer outras maiores, se fosse vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem as presentes lho<br />

(1) Kf<strong>de</strong>siast. 2í. (i) S. Pau». ± ad Cor. cap. 12.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!