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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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274 LIVRO III DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

pancadas que lhe davão, sem aparecer autor a tal obra. Ficava pisada,<br />

e moída, mas igualmente contente; porque não ignorava, que todo o po-<br />

<strong>de</strong>r do Inferno he fraco, sem licença do Ceo. E reconhecendo por au-<br />

tor do que pa<strong>de</strong>cia o mesmo Deos, dava-lhe graças, e adiantava com elle<br />

em merecimentos. Fazia-lhe gran<strong>de</strong> lastima a dôr, que o bom Jesu pas-<br />

sou na sagrada cabeça, quando lha trancavão os espinhos agudos da te-<br />

merosa grinalda, com que foi coroado por ódio, e por escarneo. Quiz<br />

sentir alguma parte d'aquelle tormento, que imaginava qual foi, exces-<br />

sivo, e cruelissimo. Juntou tojos ver<strong>de</strong>s, que por ver<strong>de</strong>s tinhão as puas<br />

mais vivas, e mais tesas, fez hum tecido, atochou-o na cabeça, lançou-lhe<br />

a toalha por cima, e assim andava em martyrio perpetuo. Huma noite<br />

da Sexta para o Sabbado foi-se engolfando na consi<strong>de</strong>ração do muito que<br />

alíligira ao Re<strong>de</strong>mptor este tormento; chea <strong>de</strong> magoa, e compaixão, lança<br />

as mãos á cabeça, aperta o toucado, e os espinhos com tanta força, que<br />

lhe correo o sangue pelo rosto, e pescoço, e.até os braços. E ou fosse<br />

<strong>de</strong>smaiar com o esvaecimento da cabeça, e do sangue, ou que se seguio<br />

arrebatamento á dôr, e lastima, que lhe causou a meditação, ficou <strong>de</strong>s-<br />

acordada tanto tempo, que quando as Religiosas entrarão a rezar Prima,<br />

estava ainda em estado que nada sentia, e toda banhada em sangue.<br />

Procurarão tornal-a em seu acordo. Entrando em si, a primeira palavra<br />

com que acudio, foi dar graças a Deos; porque alcançara cVelie huma<br />

mercê, que muito tempo havia requeria, que era acabar a vida com termo<br />

tão abreviado, que não fosse penosa a suas irmãas, que muito amava.<br />

Assim o disse, e assim aconteceo logo ao Domingo seguinte, á huma<br />

hora <strong>de</strong>pois da meia noite, ficando a cela recen<strong>de</strong>ndo em hum muito suave<br />

e extraordinário cheiro. He muito digno <strong>de</strong> se saber, que usando esta<br />

Religiosa tão rigorosas penitencias, e não as largando nunca, chegou a<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oitenta annos: para que acabemos <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os fracos, e mi-<br />

mosos, que o máo tratamento corporal, não só he preservativo da morte<br />

eterna, mas também pia temporal. Constou-me por dito <strong>de</strong> muitas Ma-<br />

dres <strong>de</strong>ste Convento, que foi esta Religiosa irmãa <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ancisco Gonsaf-<br />

ves Pegas, avô do Padre <strong>Fr</strong>ei Domingos Pegas, Religioso <strong>de</strong> nossa Or-<br />

<strong>de</strong>m, assinado, e morador, quando isto escrevíamos, no Convento <strong>de</strong> São<br />

Domingos d' Évora.<br />

A Madre Soror Maria da Resurreição foi celebrada em toda a vida<br />

por gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s: oração <strong>de</strong> muitas horas, e muito afervorada, chari-<br />

da<strong>de</strong> sem termo para com todas, rigor sem pieda<strong>de</strong> para comsigo. To-

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