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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DU PORTUGAL 483<br />

Não teve menos nome Soror Brites <strong>de</strong> Santo Thomas, <strong>de</strong> quem sa-<br />

bemos, que em muitos annos <strong>de</strong> vida nunca comeo carne, sempre dor-<br />

mio vestida, servindo-lhe <strong>de</strong> cama huma taboa, e <strong>de</strong> almofada para a<br />

cabeça <strong>de</strong> noite os pantufos, que <strong>de</strong> dia lhe servião nos pés, cercada <strong>de</strong><br />

cilícios, moida <strong>de</strong> disciplinas, consumida <strong>de</strong> jejuns.<br />

Irmâa era d'esta Madre, tanto na vida, como no sangue, Soror Ele-<br />

na da Cruz. E não vivião com menos concerto <strong>de</strong> religião, e costumes,<br />

Soror Maria Cacegas, e Soror Catharina <strong>de</strong> São Domingos. Das que hoje<br />

vivem po<strong>de</strong>ramos nomear muitas, e dizer muito <strong>de</strong> cada huma, se o per-<br />

mitira a razão da historia, ou sua humilda<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>ra licença.<br />

Mas não ficou só no povo a <strong>de</strong>vação <strong>de</strong> Santa Catharina <strong>de</strong> Sena, o<br />

da sua regra. Entrou pelas portas dos paços, subio as altas, e pompo-<br />

sas escadas, penetrou os aposentos, e Gamaras Reaes. E não foi aga-<br />

salhada com menos amor das gran<strong>de</strong>s Senhoras, e moradoras d'ellas, do<br />

que fora da humilda<strong>de</strong> do vulgo recebida. Sustentava a Rainha Dona Ca-<br />

tharina gran<strong>de</strong> casa, e estado, como era razão, inda <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> falecida<br />

el-Rei Dom João III seu marido: leo-se entre as damas, e criadas <strong>de</strong> seu<br />

serviço a vida d'esta Santa. Contarão-se milagres passados, o presentes.<br />

Abalarão os corações brandos, e piedosos com espanto, e com <strong>de</strong>vação.<br />

Houve huma dama <strong>de</strong> geração principal, e em partes naturaes avantaja-<br />

da, que se <strong>de</strong>terminou a vestir, e trazer continuo, não já bentinho curto,<br />

e secreto, que isto he uso <strong>de</strong> muita gente, mas o habito inteiro <strong>de</strong> Ter-<br />

ceira. E porque se temeo <strong>de</strong> offen<strong>de</strong>r com a novida<strong>de</strong> os olhos dos pa-<br />

rentes, antecipou-se em pedir licença á Rainha, que como Senhora tão<br />

Catholica lh'a <strong>de</strong>u graciosa, e alegremente; ajuntando condição, que mais<br />

fez estimar o favor, que não fosse parte a differença do trajo, para <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> a acompanhar cm todos os actos, e tempos, como as mais damas.<br />

Assim a vio muitas vezes entre ellas acompanhando a Sua Alteza, quem<br />

isto escrevia: levou-nos o tempo seu nome da memoria. E he bem <strong>de</strong> notar,<br />

que não po<strong>de</strong> acabar, nem escurecer o <strong>de</strong> outra criada da Rainha, que<br />

também a servia em foro nobre; inda que menos adiantado que o <strong>de</strong><br />

dama. E não se contentou só com o ceremonial do habito, e cores; mas<br />

fez profissão <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira Religiosa. E pô<strong>de</strong> ser, que d'aqui nasceo sa-<br />

bermos hoje seu nome, que era Soror Jeronyma <strong>de</strong> Santo Agustinho; e<br />

per<strong>de</strong>r-se o <strong>de</strong> quem se contentou com menos, levada <strong>de</strong> alguma espe-<br />

rança do mundo.

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