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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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416 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

que só foi falsida<strong>de</strong>, e engano do Governador <strong>de</strong> Martavão. E conjectu-<br />

rando d'aqui sua boa alma, <strong>de</strong>u-se por obrigado, não só a tratal-o bem,<br />

mas a fazer-lhe mercê. Juntou-se dizerem-lhe, que não ousava a sahir<br />

<strong>de</strong> casa, temeroso dos successos, que já sabia <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Jorge, como si-<br />

sudo, e mo<strong>de</strong>sto. Quando segunda vez tornou a aparecer diante d'elle<br />

por seu mandado, o recebeo com muita affabilida<strong>de</strong>; e faltando com os<br />

seus, tratava d'elle como <strong>de</strong> homem, que tinha por virtuoso, e discreto.<br />

De tudo tomou <strong>Fr</strong>ei Belchior occasião para tentar, se podia haver licença<br />

para pregar, e abrir Igreja. Porque se a não alcançava, queria escusar<br />

per<strong>de</strong>r mais tempo na terra, e passar, se lh'o nâo impedissem, on<strong>de</strong><br />

fosse <strong>de</strong> algum proveito. Encommendou muito o negocio a Deos, e a<br />

nossa Senhora do Rosário. E buscando sua oíTertazinha ao uso da terra,<br />

on<strong>de</strong> sem levar diante não he costume pedir-se nada, entrou a el-Rei, e<br />

tratou confiadamente o que levava em seu animo. E foi o Senhor servi-<br />

do, que nem <strong>de</strong>sprezou a dadiva por pequena, nem se mostrou difíicul-<br />

toso no requerimento. Reconheceo no presentinho pobre hum animo<br />

cheio <strong>de</strong> respeito do que se <strong>de</strong>via a sua Pessoa Real; e juntamente <strong>de</strong>-<br />

zejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r offerecer muito, em quem não era chatim, nem <strong>de</strong> seu<br />

possuia mais que o Breviário. Mostrou com real benignida<strong>de</strong>, que esti-<br />

mava tudo, mas muito mais a vonta<strong>de</strong>, que n'aquella pobreza enxerga-<br />

va. Fallou com elle <strong>de</strong>vagar. E sobre o favor da boa sombra, que nos<br />

Reis cativa mais que todas as riquezas, que po<strong>de</strong>m dar, mandou vir pe-<br />

ças <strong>de</strong> sua recamara, que <strong>de</strong> sua mão lliefoi dando. Nunca subira á imagi-<br />

nação do <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r alcançar mais d'aquella visita, que a licença per-<br />

tendida, com que se havia por bem pago. Quando sobre o bom <strong>de</strong>spa-<br />

cho vio el-Rei metido em o querer enriquecer, e com cousas não ordi-<br />

nárias, senão <strong>de</strong> muito preço: não se atrevia a dar credito aos olhos no<br />

que ouvião. E dizia-lhe: «Magnificentíssimo Principe, que não só do gran<strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> Império <strong>de</strong> Sião, mas do inundo todo mereces o senhorio: De-<br />

pois <strong>de</strong> tamanha mercê, como me tens feito, que eu estimo mais, que<br />

se me <strong>de</strong>ras hum Reino inteiro: peço-te, que escuzes mandar-me receber<br />

ouro, nem pedraria, que estou havendo medo, que os que me virem<br />

tuas jóias, ou me julguem por gran<strong>de</strong> cobiçoso, por querer <strong>de</strong> ti mais<br />

riquezas, que as <strong>de</strong> tua graça: ou por mui indigno do habito <strong>de</strong> Reli-<br />

gião que trago. Pois sendo (como he) obrigação minha seguir voluntária,<br />

e perpetua pobreza, c não possuir cousa nenhuma <strong>de</strong> valia sobre a terra,<br />

nem os olhos <strong>de</strong>vo pôr ircllus, quanto mais as mãos. Basta para hum

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