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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO IIE1NO DL PORTUGAL 47<br />

zes vendo que não bastava a occupaeão das mãos contra a força natural<br />

do sono, que sempre lhe fazia guerra, pelo pouco tempo, que lhe dava,<br />

valia-se da disciplina, e <strong>de</strong>sterrava-o com alguns açoutes fortes, que to-<br />

mava a intervallos, por não perturbar a Communida<strong>de</strong>.<br />

Assim maltratada, e penitenciada teve numa vida mui larga; que lie<br />

engano cuidar ninguém que se encurtâo os annos com o trabalho. O mi-<br />

mo, e a ociosida<strong>de</strong> são a lima surda, que os corta, e abrevia. N'ella sér-<br />

vio todos os officios <strong>de</strong> mais- confiança, fora o <strong>de</strong> Prioresa. De todos <strong>de</strong>u<br />

conta como santa, e em todos o momento, que tinha livre era <strong>de</strong> Deos.<br />

Iiida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito velha, e enfraquecida da ida<strong>de</strong>, aturava muitas ho-<br />

ras diante do Santíssimo Sacramento: e a postura era em pó, sem se<br />

mover; pregados os olhos nas a lâmpadas do Altar mór, com quem pa-<br />

recia querer competir na espertesa do fogo, e em estar direita: Porque<br />

algumas vezes dizia com sentimento, que tinha gran<strong>de</strong> inveja âquelles lu-<br />

mes; porque sempre buscavão o Ceo sem torcer, nem inclinar para nenhuma<br />

parte. Quando lhe acontecia por razão <strong>de</strong> oííicio, ou força <strong>de</strong> ve-<br />

lhice ficar <strong>de</strong> Matinas da meia noite, na hora que a Communida<strong>de</strong> sabia<br />

do Coro, já ella estava levantada para entrar nelle, e perseverava até<br />

pela manhãa; porque não houvesse hora no dia sem louvores do Crea-<br />

dor.<br />

Não se pô<strong>de</strong> cuidar, que havia <strong>de</strong> ser avaro o Pai <strong>de</strong> misericórdias<br />

com quem assim vivia, em favores, e mercês interiores. Mas <strong>de</strong> tão profunda<br />

humilda<strong>de</strong>, como a sua, não havia esperar tirar-se-lhe nem huma<br />

do peito. Por sinaes <strong>de</strong> fora se lhe alcançavão cousas gran<strong>de</strong>s. Aflirma-<br />

rão algumas pessoas, que forão por ella advertidas <strong>de</strong> faltas, e <strong>de</strong>feitos<br />

interiores, que só Deos sabia. E outras, que por suas amoestações rece-<br />

berão consolação e alivio em tentações, e apertos da alma, que sem re-<br />

velação do Ceo era impossível, alcançar-se. Alguns annos antes <strong>de</strong> falecer<br />

veio a cahir em cama sem mais enfermida<strong>de</strong> que velhice, e fraqueza, e<br />

no cabo ficou <strong>de</strong> todo entrevada; tendo já compridos oitenta annos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>; que n'isto pára a <strong>de</strong>masia da vida; porque ninguém a cobice muito.<br />

Mas n'este estado durou pouco, e chegando-se-lhe a ultima hora, pedio<br />

que lhe cantassem o Psalmo: In exitu Israel, ele. E ouvindo-o com <strong>de</strong>-<br />

voção, <strong>de</strong>ixou com alegria o Egypto da vida no anno <strong>de</strong> 1603. Era Prio-<br />

resa a Madre Soror Catharina <strong>de</strong> S. João, irmãa do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhares<br />

Dom Fernando <strong>de</strong> Noronha. Pareceo-lhe <strong>de</strong>vido (e po<strong>de</strong>mos crer, que<br />

foi instincto do Ceo mais que movimento humano) fazer-se honra com

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