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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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176 LIVRO II DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

que nunca caminhou pelas serras, senão com os çapatos na cinta? Como<br />

arrecearei a neve eu má, e peccadora, quando leio <strong>de</strong> hum Bau lista san-<br />

tificado no ventre <strong>de</strong> sua mãi, e <strong>de</strong> seus successores, os Santos mora-<br />

dores do Ermo, que aturarão a vivenda do <strong>de</strong>serto sempre <strong>de</strong>scalços,<br />

sempre mal cubertos? Pa<strong>de</strong>çâo os pés agora o que mal caminharão em<br />

outro tempo: pa<strong>de</strong>çâo frio na vida, por não pa<strong>de</strong>cerem fogo na morte..<br />

Assim vivia Soror Margarida anacoreta em povoado: mas não con-<br />

sentio o Senhor, que promete paga <strong>de</strong> cento por hum a quem quer quepor<br />

elle alguma cousa <strong>de</strong>ixa, que ficasse escurecida, e sem galardão numa<br />

luz <strong>de</strong> tanta bonda<strong>de</strong>. Estava Hilarião no coração do Ermo embrenhado,<br />

e os Demónios no maior concurso das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scobrião seu nome, e<br />

virtu<strong>de</strong>s. Quando faltão amigos, que fallem, e louvem as obras santas,<br />

temos tão bom Deos, que faz pregoeiros d'ellas os maiores inimigos.<br />

Soou por Itália a penitencia, e constância da Portugueza; e chegou muita<br />

acreditada à corte <strong>de</strong> Roma, em tempo que se achava n'ella por Embaixa-<br />

dor <strong>de</strong> Portugal Dom Pedro <strong>de</strong> Menezes. Ouvio com gosto o bom Por-<br />

tuguez as novas em que, por compatriota era participante: e elle foi o<br />

que tornando a Portugal, as <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ser viva quem já na memoria <strong>de</strong> pa-<br />

rentes, e conhecidos estava sepultada. E d'elles as ouvio com gran<strong>de</strong>1<br />

consolação sua Dom Pedro <strong>de</strong> Moura, fazendo- lhe somente duvida, vir<br />

nomeada <strong>de</strong> Itália por Margarida <strong>de</strong> Paios; sendo seu verda<strong>de</strong>iro- nome<br />

Margarida Fernan<strong>de</strong>s. Foi o caso, que para se encubrir, e fazer <strong>de</strong>sco-<br />

nhecer <strong>de</strong> todo, disfarçou o nome. Mas não quiz Deos, que pu<strong>de</strong>sse dis-<br />

farçar a lingoagem, que a manifestava por Portugueza. Muito pô<strong>de</strong> o va-<br />

lor do espirito, para emprehen<strong>de</strong>r, e acabar cousas gran<strong>de</strong>s. Tal era o<br />

<strong>de</strong> hum, que entrava tremendo na batalha, e perguntado pela causa:<br />

Treme o corpo, dizia, e pasma dos perigos, em que ha <strong>de</strong> pôr o cora-<br />

ção. Não foi menos a fortaleza <strong>de</strong> Soror Margarida em se mortificar, e<br />

vencer as forças do amor próprio, e sauda<strong>de</strong>s da pátria. Mas não pu-<br />

<strong>de</strong>rão as forças corporaes aturar tamanho espirito, sosobrarão, e cahirão<br />

com o peso. Tendo passado o íim do anno <strong>de</strong> 1530 sem quebrar hum<br />

ponto do rigor começado, entrou Janeiro do anno novo frigidissimo, e <strong>de</strong>s-<br />

temperado <strong>de</strong> neves, e ventos, que tal he sempre em Bolonha com a vi-<br />

zinhança das serras do Apenino. Não acharão resistência em aquella hu-<br />

manida<strong>de</strong>, enfraquecida por tantas vias: e veio a falecer aos <strong>de</strong>zaseis do<br />

mesmo mez primeiro do anno <strong>de</strong> 1510, véspera do gran<strong>de</strong> penitente, e<br />

soai :i dor do Ermo Santo Antão.

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