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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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400 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

fez em vingança da malda<strong>de</strong>, e sinal do que estimava os Padres. Chc-<br />

gou-lhe a nova da morte <strong>de</strong> hum, e ferimento do outro, andando longe<br />

da cida<strong>de</strong>; e na mesma hora mandou a quem <strong>de</strong>ixara o governo da jus-<br />

tiça, que fizesse estreitas informações, e castigasse os culpados, tâo exem-<br />

plarmente, que vissem os estrangeiros, que tinha por afronta própria,<br />

e feita á sua pessoa real, a que se fizera aos Religiosos. Descuhrio a ci-<br />

da<strong>de</strong> o amor, que já lhes tinha, na hora que se publicou a or<strong>de</strong>m d'el-<br />

Rei. Porque num momento forão <strong>de</strong>nunciados, e presos todos os <strong>de</strong>lin-<br />

quentes, e cúmplices, e festejada a justiça que dclles se fez: que foi<br />

lançarôm-se aos elefantes os que erão Mouros. Basta hum leve ferimento<br />

d'aquelles vastos animaes, para fazer pedaços hum corpo humano. Mas<br />

para que lhe não escape com vida o que querem matar, tem tal distincto<br />

natural, que <strong>de</strong>pois que o vêem estendido em terra, porque nâo acerte<br />

<strong>de</strong> se lhe fingir morto, assentão-lhe huma mão em cima: c logo suspen<strong>de</strong>m<br />

todo o corpo sobre ella, levantando ora os pés, ora outra mão.<br />

De sorte, que basta para ficar feito em huma pasta. E tal foi a pena dos<br />

Mouros, como mais culpados. Dos Gentios, que os acompanharão peita-<br />

dos, forão nuns <strong>de</strong>golados, outros <strong>de</strong>sterrados. Mas não parou aqui a<br />

justiça. Esta vão os cárceres cheios <strong>de</strong> outros <strong>de</strong> menos, ou nenhuma<br />

culpa. Apercebia-se o Juiz para fazer mais sangue. Acudio a elle <strong>Fr</strong>ei<br />

Sebastião, cheio <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> christãa; pedindo-lhe que suspen<strong>de</strong>sse a<br />

execução, até ter saú<strong>de</strong>, e po<strong>de</strong>r interce<strong>de</strong>r com cl-Rei por aquelles po-<br />

bres, que sabidamente innocentes estavão em ferros. Poz-se a caminho<br />

ainda mal convalecido: e foi ouvido com admiração do Rei, e <strong>de</strong> toda a<br />

Corte, orando por inimigos, e pedindo, que cessassem as mortes. «Não<br />

venho (dizia) po<strong>de</strong>roso Senhor, á tua presença pedir vingança doestas fe-<br />

ridas, que ainda vès abertas: Misericórdia peço para teus vassallos, que es-<br />

timarei como feita a mim. Porque a lei, que seguimos os Christãos, não<br />

costuma dar mal por mal. He lei, que dá vida celestial a todos, e a ninguém<br />

tira a mortal, A edificar viemos a Sião, não a <strong>de</strong>struir, mas a mor-<br />

rer pela Fé, que pregamos, com tanto gosto, que a maior queixa que tenho<br />

dos que matarão á meu companheiro, he, <strong>de</strong>ixarem-me a mim com vida. Por<br />

tanto se alguma cousa elle, c eu te merecemos, cesse tua ira, abrão-se<br />

os cárceres, não haja mais sangue.» Reconhecerão o Rei, e vassallos o<br />

espirito christão: e adiantarão na aífeição do vivo, c sauda<strong>de</strong>s do morto.<br />

De sorte, que foi a reposta do mesmo Príncipe, que a troco da graça,

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