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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUflAL 283<br />

ciência, suspirando sempre pela hora da morte, e recebendo por peni-<br />

tencia o trabalho <strong>de</strong> tal vida. N'este estado não largou nunca huma <strong>de</strong>-<br />

vação <strong>de</strong> muitos annos, que era rezar todos os dias mil vezes a elevação,<br />

e oração do Pater noster pelas almas do Purgatório. Sobre tolhida <strong>de</strong><br />

membros veio a per<strong>de</strong>r a vista, para acrescentar merecimentos na vida:<br />

que foi tão estendida, que veio a falecer no anno <strong>de</strong> 1008. Aílirma-se,<br />

que na ultima hora a consolou o Santo <strong>de</strong> seu nome, a quem com mui-<br />

to trabalho lizera em vida. e ornara huma capella na Igreja.<br />

Da Madre Soror Filippa da Madre <strong>de</strong> Deos se contão gran<strong>de</strong>s peni-<br />

tencias. Jejuava a pâo, e agoa todas as Quartas feiras, e Sextas feiras<br />

do anno, e as vésperas da communhão, e todas as <strong>de</strong> nossa Senhora.<br />

A sua oração era ficar no coro <strong>de</strong> Matinas até pela manhãa. As suas<br />

disciplinas erão quasi sempre <strong>de</strong> sangue: e a cura mais cruel que as<br />

feridas; porque as cobria com sal, e vinagre. Sendo muito entrada na<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u-lhe a Cantor os versos do Oííicio Divino com pouca advertên-<br />

cia. Disse-os cila com muita. Mas porque lhe pareceo <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, disse<br />

com toda a mansidão, que on<strong>de</strong> havia moças, bem se escusava aquelle<br />

oiíicio nos seus annos. Parece que permittio Deos o <strong>de</strong>scuido da Cantor<br />

para provar a paciência <strong>de</strong> Soror Filippa em mais que penitencias es-<br />

pontâneas: que como proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> eleição própria, por ásperas que sejão<br />

são melhores <strong>de</strong> levar, que as mui faciles, exteriores, e <strong>de</strong> mão<br />

alheia. Chegou o dito á Prioresa, pareceo pouco sofrido: amava a Re-<br />

ligião em alto ponto, carregou-lhe a mão com tanta severida<strong>de</strong>, que man-<br />

dou, que três mezes contínuos dissesse os versos <strong>de</strong> hum, e outro coro.<br />

Cumprio Soror Filippa a penitencia com tanta humilda<strong>de</strong>, e boa sombra<br />

que <strong>de</strong>pois estando a Communida<strong>de</strong> junta pedio perdão á Prioresa, e<br />

mais Religiosas da culpa, que todas conhecião não ter.<br />

Algumas cousas ficarão em memoria da Madre Soror Guiomar <strong>de</strong><br />

Pina, que hoje com muita razão espantão. Dizem, que nunca comeo,<br />

nem bebeo fora do refeitório; salvo por occasião <strong>de</strong> doença. Prova <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> abstinência, pelo pouco que então se dava no refeitório, do que<br />

ella inda partia com os pobres. Na oração era tão continua, que tinha<br />

no Coro perpetua morada: e n'este ponto se conta huma cousa prodi-<br />

giosa, que não fiáramos d'esle papel, se nos não vencera numero <strong>de</strong><br />

testemunhas, e todas digna <strong>de</strong> fé. Dizem que na pare<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> costuma-<br />

va encostar-se, estando sempre em pé diante do Santíssimo Sacramento,<br />

ficou impresso seu vulto, e durou n'ella muitos annos <strong>de</strong>pois. Mas inda

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