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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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PARTICULAR DO REINO DC PORTUGAL 203<br />

carregar sobre os hombros pesos tamanhos, que só parecia querer fa-<br />

zer a ponte toda. Bemdito edifício, que não teve só este Santo por fun-<br />

dador, e architecto; mas também por servidor <strong>de</strong> mãos, e como jorna-<br />

leiro. Espaíhou-se a nova, correo por todo Entre Douro, e Minho.<br />

Acarretava bandos <strong>de</strong> gente a curiosida<strong>de</strong>, e não havia homem covar<strong>de</strong><br />

m tal trabalhador diante. Assentando já claramente, que Deos era o<br />

ue dava aquellas forças, e Deos o que lhes fazia a sua ponte. Assim se<br />

cobrirão aqueltes montes <strong>de</strong> trabalhadores, querendo todos po<strong>de</strong>r dizer,<br />

quando tornassem ás suas terras, que tiverão parte, e merecimento no<br />

edifício, e juntamente gosarem dâ vista, e maravilhas do Santo. Asquaes<br />

Deos foi servido acrescentar <strong>de</strong> novo. com tanto maior estranheza <strong>de</strong><br />

successos, quanto era maior o numero das testemunhas, e olhos que as<br />

vião. Hiremos dizendo algumas mais particulares, que ficarão em memoria.<br />

Pareceo ao Santo, que <strong>de</strong>via ajudar aquelles pobres, que <strong>de</strong>ixavão o<br />

serviço <strong>de</strong> suas fazendas pelo bem publico, e pelo acompanharem, ao<br />

menos com alguma cousa <strong>de</strong> sustentação, que os alentasse. Foi-se hum<br />

dia pelos lugares visinhos, a ver se podia juntar alguma esmola, <strong>de</strong>pois<br />

que a fabrica hia crescendo, e luzindo. Achou na praça <strong>de</strong> numa villa<br />

hum homem, que lhe apontarão pelo mais nobre, e mais abastado d'ella.<br />

Chegou-se a elle, pedio-lhe com humilda<strong>de</strong> huma esmola para comprar<br />

algum remédio, com que consolar os seus trabalhadores. Devia ser n'a-<br />

quelle tempo o prato, e pasto <strong>de</strong> todas as conversações, ou murmura-<br />

ções o feitio da ponte, como cousa geralmente reprovada por impossi-<br />

vel. Armou-se <strong>de</strong> fingimento, respon<strong>de</strong>o com cortezia, que por estar<br />

naquelle lugar, e não trazer dinheiro comsigo, lhe daria hum escrito<br />

para sua molher partir com elle do que houvesse em casa. Chegou-se<br />

logo a huma porta, fez sobre os joelhos duas regras em hum pedaço <strong>de</strong><br />

papel, fmando-se <strong>de</strong> riso elle, e outros, que o acompanhavão. Não cos-<br />

tumão os pobres, quando lhe dão o que pe<strong>de</strong>m, duvidar nos modos :<br />

se são virtuosos, <strong>de</strong> nada julgão mal. Tomou o santo o escrito, foi-se pre-<br />

sental-o á molher. Abrindo-a elle: Padre, disse, não he boa letra <strong>de</strong><br />

cambio, a que trazeis; le<strong>de</strong>-a, vereis o que vos manda dar ; folgara eu<br />

que fora muito. Lido o escrito, erão as palavras : Dareis a este <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong><br />

innocente para a sua ponte tanto dinheiro, quanto pesar este papel. Não<br />

seja essa a duvida, tornou o Santo, se <strong>de</strong>terminais cumprir o mandado:<br />

venhão balanças, e dinheiro, que eu me dou por satisfeito com o que a<br />

letra diz. Acudio toda a casa ao peso, parecendo pura simplicida<strong>de</strong>. Mas<br />

e

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