29.06.2013 Views

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PAHTICULAtt DO REINO DE PORTUGAL 383<br />

caracoras, a fazer suas veniagas: e que erão esperados por horas. Sahem<br />

a buscal-o, dão com elle, c cativão-no com toda a companhia. Tor-<br />

não logo com festa a Lamalarra; e com ameaças, que nenhum dos cati-<br />

vos ha <strong>de</strong> ficar com vida, se lhes não entregão os <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s. E se llros dão,<br />

nenhuma outra querem <strong>de</strong> toda a preza. Erão os cativos entre todos no-<br />

venta pessoas: trazia cada hum seu pedaço <strong>de</strong> fazenda, para remediar a<br />

vida. Assombrou-se a terra com medo, ouvida a proposta. Acudirão mo-<br />

lheres, e filhos dos presos com clamores, e lagrimas. Não houve que<br />

fazer, senão consentir na miserável, e forçada preitezia. Souberão os Re-<br />

ligiosos o que passava. E vendo, que os chamava o Senhor, confessão-se<br />

hum ao outro: logo sahem-se animosamente ao campo, e como bons<br />

soldados a encontrar os inimigos. Fazia-se hum terreiro gran<strong>de</strong> no meio<br />

do lugar, sentão-se n'elle sobre humas pedras, e postos olhos, e almas<br />

no Ceo, sobem a elle com fervor, c espirito, pedindo ao Senhor graça,<br />

e ajuda, para lhe saberem ofierecer aquelle sacrifício, a que sua infinita<br />

misericórdia os trazia. Aqui obrou a fraqueza humana algum senti-<br />

mento no Padre <strong>Fr</strong>ei João, <strong>de</strong> que os olhos forão dando sinal. O que<br />

vendo o companheiro, levantou a voz, e disse-Hie as palavras seguintes,<br />

que forão ouvidas por quem <strong>de</strong>pois testemunhou no caso: Animo, Padre<br />

<strong>Fr</strong>ei João, animo. E (Pon<strong>de</strong> merecemos nós tamanho bem, como dar a<br />

vida pela confissão da Fé <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesu Christo? Demos-lhe gra-<br />

ças, e digamos-lhe com ânimos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros servos seus, que se faça"<br />

sua vonta<strong>de</strong>, pois assim he servido. Daqui forão levados á praia com<br />

as mãos atadas atraz, e n'ella os tiverão com guarda toda a noite. Triste<br />

e <strong>de</strong>sconsolada noite! Que na verda<strong>de</strong> não he tão penosa a hora da morte<br />

para quem morre, como he a dilação, e caminho, per que se vai á<br />

morte. No dia seguinte, que se contarão <strong>de</strong>zoito <strong>de</strong> Janeiro, pela ma-<br />

nhãa foi a entrega. Tinhão os bons Padres imitado a seu Mestre Jesu na<br />

prisão, e noite atribulada: agora o começarão a imitar em todos os vi-<br />

tupérios, e afrontas, que o mesmo Senhor pa<strong>de</strong>ceo entre os Ju<strong>de</strong>os. Jun-<br />

tou-se a vil canalha sobre elles: huns lhes levavão nas mãos os cercilios<br />

com repellões': oulros lh'as <strong>de</strong>ixavão impressas nas faces com bofetadas.<br />

Tal havia, que os não tinha por dignos <strong>de</strong> suas mãos, e fazia guerra aos<br />

aliiigidos com pés, e páos, a couces, e pancadas. Todos lhes cuspião nos<br />

rostos, e rasgavão os hábitos, com blasfémias, e nomes infames, dignos<br />

só das bocas d'on<strong>de</strong> sahião. Vós outros, dizião, sois os que nos fazeis<br />

guerra: vós os que trazeis cá os Portuguczes: vós os que nos enganais

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!