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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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208 LIVRO III DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

lhas <strong>de</strong> sua fabrica; porque em tamanha antiguida<strong>de</strong> não se vê o'ella cousa<br />

que ameace mina, nem mostre velhice.. Mas não he razão, que nos fique<br />

por dizer o que aconteeeo aos jornaleiros quando forão <strong>de</strong>spedidos Con-<br />

ta-se por certo, que quiz cada hum levar do bom vinho, que a serra mi-<br />

lagrosamente lhes communicava, fosse curiosida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>vação, ou que-<br />

rer levar provimento para o caminho, aperceberão suas vazilhas, pesan-<br />

do-lhes por serem pequenas. Por tão certa Unhão a provisão costumada;<br />

mas acharão-se enganados. Porque a fonte do vinho estancou juntamente<br />

com trabalho. Acabada a obra, não <strong>de</strong>itou mais gota, ficando até hoje<br />

para sinal da maravilha aberta na pedra dura a boca por on<strong>de</strong> cstillara.<br />

Não viveo o Santo muito tempo, <strong>de</strong>pois que <strong>de</strong>u fim á ponte. Por<br />

isso não ha cousas, que contar <strong>de</strong> importância; até que Deos o chamou para<br />

si. Salvo trama não menos espantosa que todas as mais suas, que dire-<br />

mos brevemente. Tornou a pregar, como fazin primeiro, e correr a co-<br />

marca. Chegou a hum lugar, on<strong>de</strong> foi advertido, que erão pouco temi-<br />

das as armas da Santa Madre igreja, que são as excommunhôes. Porque<br />

havia homens, que como não vião, nem sentião no corpo ornai, que cau-<br />

são nas almas, não só vivião <strong>de</strong>sassombradamente estando excommun-<br />

gados, mas dizião, que não havia que temer <strong>de</strong> cousa, que não quebrava<br />

osso. Pregava na praça, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter dito muito contra tão diabólica<br />

lingoagem, afeando a cegueira, e <strong>de</strong>clarando a infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, notou com<br />

sentimento, e magoa, que fazia pouco eíTeito no povo. Eis que se offerece<br />

passar á vista huma molher com hum taboleiro <strong>de</strong> pão, tirado d'aquella<br />

hora do forno. Chamou-a, e continuando a matéria: Quero, disse, que vejais<br />

por vossos olhos neste pão alguma sombra dos males, que faz em qualquer<br />

alma huma sentença <strong>de</strong> excommunhão, quando ha homem tão <strong>de</strong>saven-<br />

turado, que n'ella se <strong>de</strong>ixa incorrer. E logo começou com estas palavras<br />

contra o pão: Eu <strong>Fr</strong>ei Gonsalo, da parte <strong>de</strong> Deos, e da Santa Madre<br />

Igreja <strong>de</strong> Ityma excommungo, e hei por excommungado todo este pão. Não<br />

houve homem em toda a praça, a quem se não arrepiassem, os cabellos<br />

<strong>de</strong> pasmo, e medo do que virão. Não erão bem acabadas as ultimas pa-<br />

lavras do Santo, quando cada pão daquelles, que erão muito alvos, e<br />

formosos, se tornou feo, e negro, e nem mais, nem menos, que outro<br />

tanto pedaço <strong>de</strong> carvão. Proseguindo outra vez, dizia assim: Abri, irmãos,<br />

os olhos, e os entendimentos; não he nada o que ve<strong>de</strong>s, em comparação<br />

do miserável estado em que íica o homem, <strong>de</strong>pois que sobre elle cahe<br />

a excommunhão: que se esta pobre composição <strong>de</strong> massa, contra quem

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