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Fr. Luís de Cácegas – Vol.4 - opscriptis

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202 LIVRO 111 DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

junto a huma Ermida : que pela mesma razão se chama Nossa Senhora<br />

do Váo. Porém o Santo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> os ouvir, mandou, que se não tra-<br />

tasse <strong>de</strong> outro lugar, senão o em que tinha a sua Ermida. E não falta<br />

quem diga, que houve para isso revelação divina. Parece, que queria o<br />

Senhor mostrar seus po<strong>de</strong>res em honra do seu servo. Porque todo o<br />

homem <strong>de</strong> bom juizo achava segunda impossibilida<strong>de</strong> na escolha <strong>de</strong> tal<br />

posto: montanhas altas <strong>de</strong> huma parte, e outra, pen<strong>de</strong>ntes sobre o rio,<br />

alcantiladas, e fragosas, serviço trabalhosíssimo, e <strong>de</strong> custo dobrado,<br />

terra seca, estéril, e falta <strong>de</strong> tudo. Emfim, não espantando nada o Santo,<br />

<strong>de</strong>u-se principio á fabrica: e logo se começou a ver quaes erão as for-<br />

ças, em que estribava sua confiança, que era o braço divino, que tudo<br />

po<strong>de</strong>. Foi principio um instíncto, e movimento do Ceo, que aballou toda<br />

a comarca ao perto, e ao longe, acudindo, e procurando todo o homem<br />

ajudal-a com o que cada hum podia : os pobres com serviço pessoal,<br />

os ricos com os creados, alem <strong>de</strong> largo provimento <strong>de</strong> pão, e vinho, e<br />

outras esmolas. Era povo sem numero, e trabalhava-se muito, e enxerga-<br />

va-se no feito quanto po<strong>de</strong>m muitos braços, e muitas mãos juntas. Mas<br />

fazia lastima, que quanto mais se procedia tanto maiores difficulda<strong>de</strong>s se<br />

<strong>de</strong>scobrião. Era necessário para segurar os alicesses, lançar-lhes lageas,<br />

como meios montes. Excedia isto nas forças, porque faltavão instrumen-<br />

tos, e machinas para tal serviço necessárias : a disposição do sitio aspe-<br />

rissimo, e muito <strong>de</strong>pendurado difficultava tudo. Começou agente a <strong>de</strong>s-<br />

confiar, e logo a afrouxar no fervor, e hir largando o trabalho. Aqui se<br />

mostrou segundo sinal da mão divina. Estava cortando hum penedo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>smesurada gran<strong>de</strong>za, acudio huma quadrilha dos mais esforçados mo-<br />

ços, membrudos, fortes, e agigantados, quaes aquella ida<strong>de</strong> os creava,<br />

puzerão-lhe as mãos. e boa vonta<strong>de</strong> ; tal era, que nem abalal-o pu<strong>de</strong>rão,<br />

e havia quem julgava, que nem quatro singeis <strong>de</strong> bois o moverião. Yio<br />

o Santo o que passava, e tinha notado o <strong>de</strong>sgosto, que hia entrando<br />

em seus obreiros; chamou por Deos em seu coração, chegou-se á pedra,<br />

poz-lhe as mãos, dizendo alegremente: para esta hum velho basta; e foi-a<br />

ro<strong>de</strong>ando com facilida<strong>de</strong>, e levou-a só a tombos ao lugar on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong><br />

servir. Ficerão suspensos <strong>de</strong> pasmados quantos andavão na obra. Olha-<br />

vão huns para os outros, e não crião o que vião, fazendo cruzes <strong>de</strong><br />

atónitos, vendo tal força em hum velho, que nem sobre hum bordão<br />

podia bem levar os membros cançados. Julgavão o caso por cousa <strong>de</strong><br />

encantamento; porque não tinhão inda visto milagres. Mas logo começou

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